domingo, 2 de novembro de 2014

Amamentação noturna causa cáries?


   Muitas mães se preocupam assim que nascem os primeiros dentinhos: "Preciso agora fazer o desmame noturno? Mamar à noite, sem escovar os dentes, vai deixar meu bebê exposto à cárie? Estão me pressionando (amigos, família, pediatra, dentista, etc) para fazer o desmame noturno, me garantindo que há sim esse risco."

   Leia abaixo os motivos pelo quais já se sabe que não é preciso desmame noturno para garantir dentes bonitos e uma boa saúde bucal para seu bebê.

"Amamentar à noite não só é normal como também necessário para o bebê. Seja por fatores nutricionais ou afetivos, lembre que amamentar não é só alimentar a criança, e não é preciso ir aos extremos de desmame noturno ou escovar os dentes após cada mamada para garantir que os dentes fiquem longe da cáries. 

   Para bebês em aleitamento materno exclusivo (até os 6 meses de idade), a limpeza da boca e língua é uma medida de condicionamento para acostumar o bebe com a higiene bucal, só se faz obrigatória em casos de infecção por sapinho. Basta molhar uma gaze com água filtrada e limpar gengivas e língua com delicadeza.

   Muitos estudos têm demonstrado que o aleitamento materno e a alimentação saudável são fatores que protegem contra a aparição de cáries. Amamentação noturna por si só, não causa cáries, isso é um grande mito amplamente difundido (inclusive entre os odontólogos, que acabam assim orientando incorretamente os pais). O que pode causar cáries é a alimentação noturna com leite artificial, tanto que o nome popular é "cárie de mamadeira". 

   Observando-se apenas a maneira diferente desses dois tipos de alimentação (com mamadeira ou com o seio materno), já se percebe a primeira diferença. Ao sugar o peito, o leite vai em pequenos jatos para o fundo da boca do bebê, logo descendo pela garganta, enquanto ao usar mamadeira o leite sai em grande quantidade e fica banhando toda a cavidade bucal e os dentes, até finalmente descer para o estômago.

   As cáries são uma doença multifatorial, o leite materno atua nesse caso como um fator protetor da boca e suas mucosas, porém deve ser sempre acompanhado de uma boa higiene bucal, com pelo menos uma escovação diária eficiente para crianças que já começaram sua introdução alimentar, acompanhada de uma alimentação livre de açúcares industrializados. 

Como prevenir as cáries: 
   Escovação, alimentação saudável livre de açúcares industrializados (incluindo os do LA, farinhas refinadas, engrossantes de mamadeiras, bolachas, biscoitos etc) e amamentação em livre demanda são condutas suficiente par prevenir a aparição de caries em lactantes."


Adaptado de: Grupo Virtual de Amamentação 

Para maiores detalhes, vejam o texto abaixo da odontopediatra Andreia Stankiewicz

"MITOS DA ODONTOLOGIA:

Repita comigo: amamentar não dá cáries, Amamentar Não Dá Cáries, AMAMENTAR NÃO DÁ CÁRIES!

Há evidências substanciais que relacionam os hábitos alimentares à cárie dentária, sendo consenso geral que o aumento na sua incidência seja resultado do processo de civilização do homem, acarretando alterações nos padrões de vida mais naturais. Em povos que mantêm os hábitos de alimentação ancestrais, a prevalência de cáries é baixa. Entretanto, quando esses grupos entram em contato com a civilização moderna e seus hábitos alimentares, os índices aumentam drasticamente.

DRESTI, DV; WAES, HV. Prevenção coletiva, semicoletiva e individual em crianças e adolescentes. In: WAES, HJMV, STÖCKLI, PW. Odontopediatria. Porto Alegre: Artmed, p. 133-50, 2002.

A sacarose (açúcar) é o alimento cariogênico mais importante e mais amplamente utilizado pelo homem. Tem o poder de transformar alimentos não cariogênicos e anticariogênicos em cariogênicos. Outros açúcares envolvidos na cariogênese são a glicose e a frutose, encontrado no mel e nas frutas. Uma simples exposição aos alimentos cariogênicos não é fator de risco para a cárie, e sim o frequente e prolongado contato desses substratos com os dentes.

CURY, JA. Uso do flúor e controle da cárie como doença. In: BARATIERI, LN. Odontologia Restauradora – Fundamentos e possibilidades. São Paulo: Santos, p. 32-67, 2001.

Foi observado que a dieta do lactente brasileiro é deficiente em ferro, monótona, com utilização frequente de biscoitos, espessantes, salgadinhos e açúcar, caracteristicamente alimentos de alta cariogenicidade.

BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Política de Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde. Guia Alimentar para crianças menores de dois anos. Série A Normas e Manuais técnicos, n. 107. Brasília: Ministério da Saúde; 2002.

O tempo de aleitamento materno exclusivo e de aleitamento materno é maior em mulheres de melhores classes sociais, com maior escolaridade; do mesmo modo, a higiene dental é mais adequada nesse grupo; contrariando o que se observa com a prevalência de cárie, mais comum nas classes menos privilegiadas.

MARQUES, NM. et al. Breastfeeding and early weaning practices in northeast in Brazil: a longitudinal study. Pediatrics., v. 4, p. 108, 2001.
GIUGLIANE, ERJ. O Aleitamento materno na prática clínica. J Pediatr, v. 76 (supl. 3), p. 238-52, 2000.

O leite materno é liberado por ordenha diretamente no palato mole, assim, não sofre estagnação ao ser sugado. Já no aleitamento artificial por mamadeira, o bico bloqueia o acesso da saliva aos incisivos superiores, além de permitir a estagnação de alimentos e exposição prolongada aos carboidratos fermentáveis.

DAVIES, GN. Early childhood caries – a synopsis. Community Dent Oral Epidemiol. V. 26 (supl 1), p: 106-16, 1998.
SEOW, KW. Biological mechanisms of early childhood caries. Community Dent Oral Epidemiol. V. 26 (supl 1), p. 8-27, 1998. 

A prevalência de aleitamento materno diminui com a idade, ao contrário do que ocorre com a prevalência de cárie.

SANTOS, APP., SOVIERO, VM. Caries prevalence and risk factors among children aged 0 to 36 months. Pesqui Odontol Bras, v. 16, p. 203-8, 2002.

Mesmo com um aumento na prevalência mundial do aleitamento materno, a prevalência de cárie precoce da infância tem se mostrado constante ao longo dos anos.

CURY, JA. Uso do flúor e controle da cárie como doença. In: BARATIERI, LN. Odontologia Restauradora – Fundamentos e possibilidades. São Paulo: Santos, p. 32-67, 2001.

Estudos demonstraram que o leite materno diminui o risco de aparecimento de doenças, tais como gastrenterite, infecções, asma, doenças atópicas e diabetes melito, as quais também têm influência na nutrição da criança. Logo é de se pressupor que o leite materno poderia proteger contra a cárie, pelo menor aparecimento das doenças que contribuem para a fisiopatologia da doença e pela menor utilização de medicamentos de risco à carie.

RIBEIRO, NME; RIBEIRO, MAS. Aleitamento materno e cárie do lactente e do pré-escolar: uma revisão critica. J Pediatr, v. 80, n. 5, Porto Alegre, 2004.

O leite humano é caracterizado por um complexo sistema de defesa que inibe o crescimento de vários microorganismos, entre eles o estreptococcus mutans. Os anticorpos IgA do leite podem interferir na colonização dos estreptococcus pioneiros e, consequentemente, na colonização de outras bactérias residentes na boca. Do mesmo modo, o conteúdo de nutrientes, a capacidade de tamponamento e outros mecanismos de defesa presentes no leite materno podem influenciar a microbiota residente. 

CALVANO, LM. O poder imunológico do leite materno. In: CARVALHO, MR, TAMEZ, RN. Amamentação: Bases Científicas para a prática profissional. Rio de janeiro: Guanabara-Koogan, p. 88-95, 2002.
MARCOTTE, H., LAVOIE, MC. Oral microbial ecology and the role of salivary immunoglobulin A. Microbiol Mol Biol Rev. v. 62, p. 71-109, 1998.
KUNZ, C. et al. Nutritional and biochemical properties of human ,milk, Part I: general aspects, proteins, and carbohydrates. Clin Perinatol.v. 26, p. 303-33, 1999.

O leite materno contém uma mistura de oligossacarídeos complexa e única da espécie humana, presente em quantidades ínfimas em pouquíssimos mamíferos, que poderá agir num estágio inicial de processo infeccioso, inibindo a adesão bacteriana às superfícies epiteliais.

KUNZ, C. et al. Nutritional and biochemical properties of human ,milk, Part I: general aspects, proteins, and carbohydrates. Clin Perinatol.v. 26, p. 303-33, 1999.

Qualitativamente, foi demonstrado que o leite humano não é cariogênico pois a placa dental formada por ele é diferente daquela formada pela sacarose. Além disso, com o leite humano não há perda mineral clinicamente visível no esmalte, contrariamente ao que acontece com a sacarose. 

ARAUJO, FB. et al. Estudo in situ da cariogenicidade do leite humano: aspectos clínicos. Rev ABO Nacional. v. 4, p. 42-3, 1997.

Experimentalmente, foi demonstrado que o leite humano não é cariogênico por não provocar queda significativa no ph do esmalte em crianças sob aleitamento materno, com idades entre 12 e 24 meses; promovia a remineralização do esmalte por meio da deposição de cálcio e fosfato em sua superfície e não causava in vitro a descalcificação do esmalte após 12 semanas. Porém, ao ser acrescentada sacarose ao leite humano, havia o surgimento de cáries em dentina em 3,2 semanas.

ERICKSON, PR., MAZHARI, E. Investigation of the role of human breast Milk in caries development. Pediatr Dent. v. 21, p. 86-90, 1999.

As evidências relacionadas à associação entre cárie e amamentação são limitadas e inconsistentes. Muitos estudos que sugerem a existência deste risco, falham sob a ótica do rigor científico. Além de, em sua grande maioria, serem baseados em estudos dependentes da confiabilidade na recordação das práticas de amamentação e alimentação infantil, fracassam em medir adequadamente e controlar variáveis de confusão fundamentais, tais como práticas de higiene dental, uso do flúor e fatores dietéticos, incluindo a ingestão de alimentos e bebidas à base de açúcar e outros alimentos.

ARORA, A. et al. Early childhood feeding practices and dental caries in preschool children: a multi-centre birth cohort study. BMC Public Health, v. 11, n. 28, 2011.

Recente estudo com adequado controle de vieses ((idade, variáveis sociais, variáveis de saúde, variáveis comportamentais, variáveis relacionadas à higiene bucal, presença de placa visível e contaminação por Streptococcus mutans) comprova que a amamentação não foi um fator de risco para cáries. Idade, alto consumo de sacarose entre as refeições e a qualidade da higiente oral, sim.

NUNES, A.M. et al. Association between prolonged breastfeeding and early childhood caries: a hierarchical approach. Community Dent Oral Epidemiol, 2012 


Lembrete: a Organização Mundial de Saúde preconiza a amamentação até os dois anos ou mais!

Conclusão: Amamentação NÃO dá cáries. Dá, no mínimo, um SORRISO LINDO, SAUDÁVEL E FELIZ!"


Retirado de:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=316381891802920&set=a.313465942094515.73832.154050994702678&type=1




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