sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Radical sim, com muito orgulho!


nosnocentro-5


Eu sou radical, sim, com muito orgulho. Não sei porque as pessoas têm tanto medo dessa palavra.

Tenho ouvido com muita freqüência (muito mais do que eu acharia aceitável) discursos do tipo: “prefiro parto normal, mas não sou radical!”, “sou a favor da amamentação, mas não sou radical!”, “trato com homeopatia, mas não sou radical!”. Não consigo deixar de achar estranho.
Se formos à origem etmológica do termo, veremos que radical é apenas e somente aquele que vai na essência, na raiz de alguma coisa, recusando-se a permanecer na superfície. Pensando assim, tenho o maior orgulho de bater no peito e dizer que sou radical em muitas coisas na minha vida. Aliás, em todas que são importantes. Simplesmente porque não me permito fazer as coisas pela metade, de qualquer jeito.

Eu acho que ser radical, no sentido de ir à raiz das coisas, é fundamental para que a gente corra atrás do que tem importância, dê valor ao que acredita. É preciso que se tenha crenças na vida, é preciso agarrar-se com paixão às idéias, e lutar por elas, ao invés de encarar tudo com esse ar blasé, como quem olha cada experiência pensando: “se der, deu, se não deu, tudo bem”. Não, eu não sei viver assim. Principalmente, não sei ser mãe assim.
Por exemplo, eu, se não fosse radicalmente a favor do parto normal, não teria ido atrás de um obstetra que se dispusesse a um PN gemelar (e em casa!), não teria buscado informações e descoberto que isso era possível, teria baixado a cabeça passivamente ao primeiro fulaninho que me dissesse que gestação gemelar é indicação absoluta de cesárea.
Da mesma forma, se eu não fosse uma radical no quesito amamentação, não teria insistido tanto para amamentar gêmeas sem complemento artificial, não teria lutado para superar as dificuldades, não teria desafiado a sentença impiedosa do primeiro pediatra, implacável ao determinar que eu jamais teria leite para as duas e que elas passariam fome. Se não fosse o meu radicalismo, eu teria enfiado uma bela mamadeira de leite de vaca pela goela das minhas pimentas antes que elas completassem um mês de vida.
Ainda pensando assim, tantas outras coisas tão importantes e que fizeram toda a diferença na minha caminhada como mãe teriam sido abandonadas pelo meio do caminho, não fosse o meu abençoado radicalismo: a presença em casa ao invés das horas de trabalho longe delas, os cuidados naturais nos episódios de doencinha ao invés das alopatias, antibióticos e intervenções em geral, a cama compartilhada e todo colo do mundo ao invés da eterna luta pela independência precoce.

Hoje, ao olhar para trás, eu tenho mesmo é que agradecer por ter descoberto a tempo esse radicalismo que só me fez crescer, aprender e melhorar. E pela convivência com tantas amigas, elas também radicais, com quem posso trocar e caminhar junto.

Ser radical, pra mim, é muito mais do que um rótulo maldoso, ou uma acusação da qual tenho que me defender. Ser radical é meu estilo de vida.

(texto originalmente publicado no blog Mamíferas, em agosto de 2008)


http://umavezmamifera.wordpress.com/2014/09/05/radical-sim-com-muito-orgulho/

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