sábado, 15 de novembro de 2014

Resumo do Livro: A Criança Terceirizada - Por Simone de Carvalho


Escrito pelo pediatra Dr. José Martins Filho, professor da Universidade de Campinas e Membro do Conselho Brasileiro de Pediatria, o livro nos traz um olhar sensível e humano acima de todos os olhares acerca da paternidade e maternidade. O autor faz referência a perda da visão dos cuidados com o bebê passado de gerações em gerações, onde passou este cuidado, a ser terceirizado em nossa sociedade moderna, por creches e babás. Repassou também não só o cuidado, mas a educação dos filhos da modernidade, onde o pai e mãe passaram a ter cada vez mais, um papel secundário na educação de seus filhos. Refiro-me ao comportamento social dos pais trabalharem fora o maior período da vida do seu filho e este permanecer na posição de “confinamento” em escolas de berçários de educação infantil.

 

O autor chama a atenção para este fenômeno, classificando esta dinâmica como “gaiolas de ouro”, onde o serviço prestado as crianças em termos de espaço e atividades de última geração, onerosos e que possuem a capacidade de preencher todo o tempo de permanência da criança na escola, mas que, ainda é pobre no quesito atenção, afetividade e principalmente o direito da criança ser enquanto individuo único e com necessidades distintas, passando a ser parte da coletividade. Tudo é feito e trabalhado com base no coletivo, e a criança vai perdendo cada vez mais o seu espaço de individualidade nos contextos sociais que chamamos de escola.

 

A preocupação do autor está no fato, de que, cada vez mais cedo, a criança é tirada do seu ambiente de aconchego e segurança no que se refere a importância primordial do aleitamento materno. Ingressa aos quatro meses de vida em berçários abarrotados e com escassez de pessoal, onde o bebê tem de se adaptar abruptamente a este desapego. O reflexo disto são crianças cada vez mais suscetíveis a doenças respiratórias, a ação de bactérias e viroses por causa de sua baixa a agravante imunidade, fator primordial da amamentação. O sofrimento então é um fator presente, e aspectos neurológicos e emocionais também se evidenciam, e o que vemos e assistimos passivamente, é uma geração crescendo com base nos seus confinamentos, que estão trazendo consequências irreversíveis a um futuro que ainda é desconhecido para a maioria de nós.

 

O fator normalidade e a busca incessante pelas normas ditadas pelo capitalismo em nossa sociedade estão cada vez mais restringindo os direitos de nossas crianças, pois, na maioria das teorias escolares de cuidado e capacidade plena de educação das crianças, está o lado da prática, onde nem sempre todas as coisas acontecem exatamente como foi “vendido” aos pais. Crianças que permanecem na escola por até 12 horas diárias, em que foi vetado o direito dela de escolha, até porque ainda são vistas como seres em formação e frágeis, incapazes de expressarem os seus próprios sentimentos, e sendo covardemente colocadas na “roda da vida moderna” sendo elas as que precisam se adequar a nova realidade. Foi arrancadas delas também, o direito ao aleitamento materno prolongado, de no mínimo até dois anos, impostas por fórmulas e leite de origem animal que agravam o seu estado imunológico.

 

Também, o direito a uma infância plena, onde os seus dias são preenchidos por dezenas de atividades que sufocam o seu interior infantil de apenas observar e sentir o mundo como ele realmente é e se mostra para ela. Privadas também de correr, saltar, pular, gritar, porque passa a maior parte do tempo em míseros metros quadrados com uma luz artificial quase todo o tempo. Não podem mais sentir a beleza da vida, passar tempo fazendo nada, deitar na grama e sentir a brisa do vento, o que as restam, é a dinâmica de lutar todos os dias por seu espaço individual em suas gaiolas de ouro, pagas a duras penas pelo esforço maçante de seus pais, em que ambos, pais e crianças, cada vez mais estão sendo inseridas nesta roda da vida, esquecendo-se totalmente de sua humanidade e principalmente individualidade como agente social pleno.

 

E por fim, é urgente a necessidade de um olhar mais sensível e mais humano acerca das reais necessidades de nossas crianças. Necessidades que não podem ser preenchidas por “tempo de qualidade” que não ultrapassam meia hora por dia, por um quarto abarrotado de brinquedos caros e que de tantos, nem são utilizados e vivenciados; nem o fato de estarem em uma escola muito conceituada, de morarem em suas casas suntuosas e seus carros de luxo, nada disso. O que nossas crianças necessitam neste momento é de um pouco mais de tempo com seus pais, de terem o direito de apenas e serem crianças, de brincar e de viver a sua infância sem cobranças, sem horários definidos, sem milhões de atividades diárias. O que nossas crianças necessitam é apenas o direito de serem crianças.

 


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