domingo, 19 de outubro de 2014

65 dúvidas mais comuns sobre amamentação - Por Sociedade Brasileira de Pediatria

As perguntas que se seguem são aquelas que mais comumente são feitas nos consultórios e nos encontros técnicos onde o aleitamento materno esteja sendo discutido, o que já é uma evidência do desconhecimento global, da população em geral e dos profissionais de saúde, a respeito do assunto. Tentamos agrupar as perguntas por temas. O ideal é que sua leitura seja complementada com a leitura do capítulo referência, por nós sinalizado, para que todas as dúvidas possam ser dirimidas. Não podemos deixar de dizer às mães e seus familiares, aqui, que parte do que está escrito no livro foi aprendido com a observação do hábito secular da amamentação, realizado pelas mães e apoiado pelos pais e familiares, que merecem, mais do que nosso respeito, nosso agradecimento.

As Perguntas

1. Como deve se preparar a mulher visando ao sucesso do Aleitamento?
É importante que ela busque informações, aconselhamento e dissipe suas dúvidas junto a pessoas qualificadas. Aprender a necessidade do aleitamento precoce, que incrementa o vínculo entre ambos e facilita não só o início, mas também a manutenção da amamentação é fundamental. Saber também a maneira correta da postura e pega do bebê, bem como os cuidados com as mamas, serão úteis na prevenção de problemas que levam à interrupção desta prática. Devem as mamas ser expostas ao sol, regularmente, por curto período. Também é importante a alimentação equilibrada e o aumento da ingestão de líquidos para garantir os nutrientes necessários à produção do leite. As vantagens do método para mãe e filho e a desmistificação de dogmas e crenças, como leite fraco, pouco leite etc. lhe trarão ensinamentos e confiança indispensáveis para alcançar este objetivo.

2. Qual a alimentação adequada para a mulher que está amamentando?
Não há orientação alimentar específica para esta fase, devendo-se manter os preceitos básicos de uma dieta balanceada como no período gestacional. As refeições devem constar de carnes, legumes, verduras, frutas e, em menores quantidades, açúcares, farináceos e gordura, visando à oferta adequada de proteínas, carboidratos, lipídeos, vitaminas e sais minerais, essenciais como matéria-prima à produção do leite materno. Merece atenção especial a necessidade do aumento da ingesta de líquidos. Seguindo estas orientações estaremos prevenindo carências nutricionais, assim como o ganho de peso excessivo, que, na gestação normal, não deve ultrapassar 12 a 14 quilos.

3. A gestante que não teve sucesso em amamentação anterior, por falta de leite, pode vivenciar novamente o mesmo problema?
Sem dúvida, esta gestante é de risco para o desmame precoce e precisa ser vista com muita atenção. Através de uma conversa pode-se presumir os motivos que a levaram a abandonar tal prática e reorientá-la. Quando esta abordagem ocorre, a chance de sucesso é bastante grande. A falta ou diminuição do leite, na grande maioria das vezes, é conseqüência de atitudes equivocadas, inclusive por profissionais de saúde. Também merecem atenção, com a finalidade de evitar o abandono desta prática, mulheres que estudam ou necessitam retornar ao trabalho precocemente, que deverão ser orientadas quanto à forma de coleta e armazenamento do seu próprio leite para ser ofertado ao bebê na sua ausência. Gestantes que enfrentam ambiente familiar desfavorável necessitam encorajamento e motivação. Aquelas que foram ou são portadoras de doença mamária ou submetidas à cirurgia no órgão devem ser esclarecidas em relação às suas dúvidas e possibilidades. Isto se aplica também àquelas com doenças crônicas. Gestantes com dependência química (alcoolismo, tabagismo, drogas psicoativas e/ou ilícitas) merecem apoio e orientação. Por fim, as gestantes adolescentes, devido à sua pouca maturidade, poderão sentir-se desmotivadas e/ou despreparadas para aderirem a esta prática.

4. Os fatores emocionais podem interferir no Aleitamento?

O aleitamento depende da liberação de hormônios e, particularmente, o que promove a ejeção (descida) do leite sofre interferência direta de fatores emocionais. Sentimentos agradáveis relacionados ao bebê fazem o leite fluir, o que é sabido há tempo pelas mulheres que amamentaram. Já o estresse, a dor, preocupação e dúvidas podem inibir a descida do leite, daí a importância da família para dar apoio, segurança e tranqüilidade neste período (veja o Capítulo 3).

5. Com que freqüência devo amamentar meu filho? 

A constituição do leite dos mamíferos varia muito: o leite da coelha é tão rico em gorduras e calorias, que ela só tem necessidade de amamentar seus filhos uma vez a cada 24 horas. O leite da leoa do mar, cujo filhote sofre um importante resfriamento dentro d’água, é tão rico em gorduras que se assemelha a um queijo. Comparados aos chimpanzés, que têm 98% da carga genética idêntica à do homem, verificamos que a duração de nossos atos corresponde ao dobro da duração desses primatas, que amamentam com intervalo de uma hora. Se assim for, a criança humana deve mamar a cada duas horas. Em verdade, a criança deve ser amamentada  com a freqüência que chamamos de livre demanda, ou seja, a qualquer hora, de acordo com as suas necessidades e em função dos sinais de fome. 
Como os níveis hormonais que mantêm a produção de leite permanecem elevados por cerca de três horas, criou-se uma inverdade, dizendo que o bebê deveria mamar a cada três horas. Você e seu bebê, independentemente da idade dele, sabem reconhecer quando está na hora da mamada. Determinados aspectos devem, ainda, ser considerados. O recém-nascido precisa ser amamentado frequentemente nos primeiros dias, 10 a 12 vezes nas 24 horas, variando de uma a três horas o intervalo entre as mamadas, na primeira semana. Alguns bebês aão muito dorminhocos e nestes casos talvez seja melhor acorda-los para mamar, depois de três horas de sono. Recomenda-se retirar suas roupas, deixando-o apenas de fralda, depois coloca-lo  na posição sentada ( posição de alerta) e massagear suavemente os seus pés, aproximando-o do peito para mamar.
 Após o período neonatal ( primeiras quatro semanas de vida) cada bebB~e vai estabelecendo o seu ritmo. Os intervalos vão aumentando para duas ou três horas, durante o dia, e quatrro a cinco horas durante a noite. As mamadas noturnas são importantes para manter o efeito anticoncepcional e estimular a produção de leite ) o nível de prolactina é maior à noite, e não devem ser suprimidas ou substituídas. 
Após o primeiro mês, os bebês saudáveis são perfeitamente capazes de gerenciar os horários de sua alimentação, não sendo necessário esperar que as mamas encham-se de leite para amamentar. 
 Para maiores esclarecimentos, leia o Capítulo 3.

6. Por quanto tempo devo deixar meu filho mamar no peito?
O tempo de permanência no peito em cada mamada não deve ser estabelecido, uma vez que a habilidade do bebê em esvaziar a mama varia entre crianças e, mesmo numa criança, pode variar ao longo do dia, dependendo das circunstâncias. O importante é que a criança esvazie a mama, pois o leite do final da mamada (leite posterior) contém mais gorduras, que lhe darão a sensação de saciedade.

7. Como deve ser feita a higiene das mamas?
Não há necessidade de limpeza das mamas após cada mamada, sendo suficiente a aplicação de pequena quantidade do próprio leite na pele dos mamilos, a exposição ao ar e se possível ao sol. Também, antes de iniciar a mamada, não se faz necessário o uso de qualquer produto de higiene, já que a mama permaneceu em contato apenas com o leite, que é rico em defesas contra germes, além de hidratante e lubrificante. Ao contrário, o uso exagerado de água, sabonete ou outros produtos químicos leva ao ressecamento e fissuras, facilitando a presença de germes que podem causar infecção.

8. Enquanto só existe colostro, é válido usar chupetas para acalmar o bebê? E oferecer complemento para evitar que o bebê sinta fome e perca peso?
A chupeta é um dos grandes inimigos da amamentação. Os primeiros dias são fundamentais para a adaptação ao bico do peito. O bebê suga a chupeta e o bico da mamadeira apenas com os lábios e, ao passar para o mamilo, sofre o que chamamos “confusão de bicos”. Ele suga apenas o mamilo e não retira o leite porque não pressiona os “saquinhos” de leite que ficam sob a aréola. O bebê se cansa, ficando irritado e frustrado por ficar chupando sem resultado. Não ocorre o reflexo de produção e “descida” do leite. O mau posicionamento provoca rachaduras, sangramentos, e a dor bloqueia ainda mais a descida do leite. A mãe fica nervosa, achando que não tem leite, e recorre à mamadeira, desencadeando assim o desmame precoce.
O colostro é produzido em pequena quantidade, mas funciona como a primeira e mais importante vacina. Esse pequeno volume é suficiente, tem efeito laxativo e não sobrecarrega os rins, que ainda não toleram grandes volumes de líquido.
O bebê perde normalmente até 10% do peso original porque utiliza de forma natural suas reservas para o gasto energético nos primeiros dias. Ele recupera o peso do nascimento em torno do 15o dia de vida.
Administrar complemento utilizando fórmulas antes de o bebê receber o colostro pode lesionar a mucosa intestinal e causar alergias.

9. Existe leite fraco? Como saber se o bebê está recebendo quantidade adequada de leite? Chorar muito após a mamada indica insuficiência e necessidade de complementação?
“Leite fraco” é um dos grandes tabus da nossa cultura popular, às vezes até atingindo os profissionais de saúde. Não existe leite fraco ou aguado. Mesmo mulheres malnutridas, anêmicas ou cansadas, têm plenas condições de produzir leite de boa qualidade e suficiente para garantir o perfeito desenvolvimento do bebê.
Diversos sinais podem ser observados como indicadores de que o bebê está recebendo uma boa quantidade de leite materno. O bebê mama pelo menos oito vezes por dia, molha pelo menos seis fraldas e evacua três a oito vezes em 24 horas. O ritmo da sucção é pausado e é possível ouvir a deglutição. A mãe costuma sentir a descida do leite e mudança na sensação de plenitude das mamas (eventualmente ocorre vazamento do seio contralateral durante a mamada). O bebê fica esperto, demonstra expressão de felicidade e ganha peso regularmente (em torno de 20 a 30 gramas por dia). Sua pele tem turgor firme e aspecto saudável (leia o Cap. 9).
Alguns bebês podem chorar muito entre as mamadas sem que isso signifique que está recebendo pouco leite. Sua natureza mais irritadiça e cólicas no primeiro trimestre são as causas mais comuns. Esses bebês necessitam de mais paciência e mais aconchego, além de ambiente tranqüilo para acalmar o seu choro.
Contudo, se a mãe informa mudança brusca no tipo de choro ou que a criança passou a chorar muito, de repente, quando anteriormente não chorava, convém consultar o médico para uma avaliação clínica minuciosa. A criança pode estar doente, apresentando, por exemplo, uma infecção no ouvido (otite), que ocasiona dor e interrupção do sono entre as mamadas.

10. Ouvi dizer que pode haver leite azul e esverdeado. Isso é verdade?
A cor do leite humano resulta de seus componentes, podendo ser azul-claro, verde-escuro, amarelo intenso ou branco opaco sem que isso demonstre alguma anormalidade. Há inclusive variações da cor durante a fase da mamada: a) no início, ele tem semelhança com a água de coco, ou pode ser azul-claro ou, ainda, verde-escuro (caldo de cana) em função dos pigmentos da dieta materna; b) no meio da mamada ele é branco opaco, em função da grande quantidade de caseína, um tipo especial de proteína; c) no final da mamada ele tem coloração amarelada, devido à grande quantidade de gorduras.

11. Existe leite salgado?
Existe. O sabor do leite materno varia de acordo com a dieta da mãe, com a idade da criança, com o tempo em que a mãe vem amamentando, além de outros fatores.
À medida que o tempo de lactação avança, há uma diminuição do teor de açúcar do leite (lactose) e um aumento dos cloretos, que são sais, e o leite passa de adocicado a levemente salgado. Tal mudança ocorre no sentido de adequar a percepção sensorial do bebê, facilitando a introdução de alimentos complementares salgados (veja Cap. 14). Essa é outra vantagem do leite materno: não permite a monotonia de paladar verificada quando a criança mama em mamadeira, com leites sempre com o mesmo sabor doce. A amamentação prepara a criança para receber outros alimentos de sabor diferente!

12. Pode haver presença de sangue no leite, sem nenhum ferimento no mamilo?
Pode. Na fase de apojadura (descida do leite), a quantidade de açúcar (lactose) no leite produzido aumenta muito a pressão osmótica dentro dos alvéolos, provocando entrada de água dos vasos sangüíneos para lá. Esse aumento repentino da pressão pode romper os capilares e o sangue se misturar ao leite. Isso costuma desaparecer em 24 a 48 horas e não há necessidade de interromper a amamentação, pelo contrário, devemos mantê-la para esvaziar as mamas e diminuir a pressão. Esse fenômeno quase sempre acontece em mulheres que estão amamentando pela primeira vez e que têm idade abaixo de 17 ou acima de 35 anos. Se a presença de sangue persistir, a mulher deve procurar consultar-se com um especialista em mama, pois podem estar acontecendo fenômenos outros que devem ser investigados.

13. Qual a importância da mamada noturna?
É fundamental para a boa produção de leite, assim como na manutenção do Aleitamento pelo período recomendado. Isto decorre do fato de que um dos hormônios diretamente relacionados com a produção do leite (prolactina) tem seu pico máximo de liberação durante a madrugada, após o estímulo da sucção dos mamilos (veja o Cap. 3).

14.  A mulher que amamenta engorda mais ou permanece com peso elevado por mais tempo?
Pelo contrário, se a mãe tiver uma dieta adequada, o dispêndio para produzir leite consome grande quantidade de calorias do seu organismo. Isso facilita a que ela volte progressivamente a seu peso inicial antes da gravidez. É facilmente observável, na prática, que as mulheres que amamentam retornam mais facilmente e rapidamente ao seu peso (ou próximo dele), quando comparadas às que não amamentam ou amamentam irregularmente.

15. Os bebês que mamam no peito costumam ter fezes líquidas. Isso não é ruim para a criança?
Realmente os bebês alimentados ao seio costumam ter fezes líquidas, às vezes sempre que mama. Isso é uma característica normal dos primeiros dias de vida da criança alimentada ao seio: o leite materno, ao chegar ao estômago, desencadeia um reflexo de esvaziamento rápido do intestino (reflexo gastrocólico) que tem por finalidade diminuir o acúmulo de gases que podem distender a barriga da criança ou, ainda, causar cólicas.

16. Quantas vezes por dia o bebê amamentado ao seio deve evacuar?
O ritmo de evacuações varia muito em função do período de vida. Nos primeiros dois meses o bebê poderá apresentar até oito evacuações por dia, evacuando quase a cada mamada, em função do que convencionamos chamar de reflexo gastrocólico — o enchimento do estômago desencadeia uma onda de movimentos intestinais (peristalse) que culmina com o esvaziamento do reto. Nos meses seguintes, o aparelho digestivo vai se “acalmando” e, como quase todo o conteúdo do leite materno é absorvido, ocorre uma demora bem maior para o enchimento da ampola retal.
Dessa forma, o bebê passa a evacuar com intervalos bem maiores, de até 24-48 horas, sem que isso caracterize uma prisão de ventre.
Na prisão de ventre “verdadeira”, muito comum entre os bebês alimentados com leite de vaca e fórmulas, o bebê tem grande dificuldade em evacuar e evidencia um grande esforço para eliminar fezes muito ressecadas e endurecidas.
Mamando no peito, o bebê apresentará sempre um padrão de fezes amolecidas, com odor característico, sem risco de prisão de ventre.

17. Como proceder quando o bebê começa a morder o meu peito?
O bebê que já tem dentes, que aparecem em torno do sexto mês, ao sugar, às vezes morde o peito da mãe. Entenda que ele não quer “morder” você, apenas ele aprendeu uma coisa nova na vida que se inicia. Ele tem uma voracidade acentuada e muito de seu prazer está na boca, pois ele está no vigor de sua “fase oral”. Converse com ele, ele entende! Retire o seu peito da boca utilizando a técnica do dedo mindinho (veja Cap. 5). Ande um pouco com ele no colo, sempre conversando. Troque de peito e, se possível, mude de posição. Quase sempre isso funciona.

18. O que é a icterícia do leite materno?
Cerca de 1% dos bebês a termo, saudáveis, apresentam, entre a terceira semana e o terceiro mês, icterícia, que é a coloração amarelada da pele e das mucosas. São bebês saudáveis, com bom desenvolvimento psicomotor, ganhando peso, urinando bem, evacuando bem, com fezes sempre coradas, felizes, contentes e bem-humorados, mas ictéricos... É freqüente uma história de episódios na mesma prole ou na mesma família. A causa não está bem explicada, mas parece estar relacionada a alguma característica do leite dessas mães. Essa icterícia é benigna, não costuma ser intensa, não havendo necessidade de tratamento, e não existe nenhum caso comprovado de que seja lesiva ao desenvolvimento do bebê. Após o terceiro mês costuma desaparecer progressivamente, continuando a criança a evoluir muito bem como vinha antes. Diante desses fatos não é recomendada a suspensão da amamentação, que pode ser suficiente para desencadear um desmame progressivo desnecessário.

19. O que é a icterícia precoce da amamentação? 
É a coloração amarelada da pele e das mucosas do recém-nascido, que, como o nome diz, aparece precocemente, mais ou menos no terceiro ou quarto dia de vida, logo após a alta do bebê da maternidade. O nome icterícia precoce da amamentação é inadequado, deveria ser “da amamentação inadequada”, pois esta é a causa real. O bebê não está mamando adequadamente, diuturnamente, em livre demanda, ou está recebendo outros líquidos, como soro glicosado ou água. Com isso, não recebe suficiente quantidade de colostro (o primeiro leite), que tem função laxativa, e tem também menos estímulo para evacuar o mecônio que se acumula em seu intestino no final da gravidez. Essa evacuação é estimulada cada vez que o colostro chega ao estômago do bebê através do desencadeamento do chamado reflexo gastronômico. Se o mecônio não é eliminado, é reabsorvido pelo organismo da criança, que tem um fígado imaturo para metabolizá-lo em outras substâncias e a criança torna-se amarelada (ictérica). A prevenção desse problema, que representa uma falha na assistência à mãe e ao seu bebê na maternidade, é feita através da prática rotineira da mamada precoce (na sala de partos) freqüente, em livre demanda, diuturnamente, e com a suspensão da administração desnecessário e prejudicial de outros líquidos que não o leite materno. O tratamento é quase sempre desnecessário, mas devemos realçar que, muitas vezes, aí começa o desmame, pela má prática já realizada e pela ansiedade materna em ver seu filho “doente”.
É claro que estamos falando de um tipo de icterícia provocada por uma técnica inadequada de alimentação do recém-nascido, e não de outros tipos de icterícia que podem ocorrer com o pequeno bebê e que devem ser investigados adequadamente pelo pediatra.

20. Mamilos planos ou invertidos impedem a amamentação? O uso dos “protetores” é aconselhado?
Os mamilos planos ou invertidos  podem dificultar o seu início mas não necessariamente a impedem, pois se o bebê abocanhar bem a aréola (aquela parte mais escura da mama), abaixo da qual estão os depósitos de leite materno, ele conseguirá obter o leite desejado. Veja os Caps. 3 e 7 para maiores detalhes.
Os chamados “protetores de mamilo” poderão ser utilizados se os mamilos apresentarem-se rachados. A sua eficácia é mínima, devendo ser evitado, pois prejudicam a mamada, reduzindo em 22% o volume do leite obtido, o que é,muitas vezes, o suficiente para iniciar-se, aí, o ciclo do desmame precoce. Se necessário, utilizá-lo por um tempo mínimo suficiente para amenizar a dor da mama fissurada.
“Protetores” duros com formato de chupeta não deverão ser usados! Conchas rígidas poderão ser utilizadas por baixo do sutiã, e entre as mamadas, para diminuir o contato das mamas com a roupa e utilizando-se, ainda, da camada aérea que fica ao redor dos mamilos, com efeito cicatrizante . 

21. Como saber antes do parto se o mamilo é plano ou invertido?
Faça uma pressão da aréola (parte mais escura na ponta da mama) entre os dedos polegar e indicador: o mamilo plano sai (protrai): o invertido entra (retrai).

22. Amamento meu filho e ainda sobra muito leite. Gostaria de amamentar outras crianças aqui do prédio, mas não sei se isto é correto.
Este tipo de aleitamento é chamado de “aleitamento cruzado” e é proibido pelo Ministério da Saúde no Brasil. Não sabendo o estado sorológico para o HIV de todas as mães, esta prática pode levar à transmissão, pelo leite, desse temível vírus. Você pode doar seu leite para outras crianças através dos Bancos de Leite, onde seu leite será tratado adequadamente (pasteurizado), ficando totalmente isento de quaisquer germes que poderiam ser transmitidos a outras crianças. Há muitas crianças precisando de seu leite: não perca a oportunidade de doá-lo. Leia os Caps. 16 e 22 e se anime: todos ficaremos gratos por sua atitude!

23. Por que o bebê tem cólica no primeiro trimestre? Existe relação com a alimentação da mãe? Oferecer chás entre as mamadas atenua a cólica? Há relação entre cólicas e mamadas em um só peito ou nos dois?
As cólicas do primeiro trimestre ocorrem em muitos bebês, variando apenas na intensidade. O bebê chora, fica vermelho, se espreme, a barriga fica tensa e quase sempre distendida. Iniciam-se no final da primeira semana e predominam à noite. 
As causas não são bem conhecidas, mas parecem ter relação com uma relativa imaturidade enzimática que acarreta fermentação e gases. Os gases distendem as alças intestinais e provocam dor. A cólica melhora com a eliminação de gases. 
A influência de temperos e alguns alimentos na dieta materna é discutível e não parece ser de grande importância.  Uma boa prática é esgotar um peito antes de passar para o outro. A explicação é a de que o “leite do início” ( ou anterior) é muito rico em lactose, açúcar que favorece a fermentação e formação de gases. Se o bebê passa para o segundo peito, sem esgotar o primeiro ( com o chamado “leite posterior”) rico em gorduras que o sacia, sem necessidade de ir ao segundo peito) vai, novamente, receber mais “leite anterior”, com grande quantidade de lactose e mais produção de gases.
Oferecer chás aos bebês entre as mamadas pode prejudicar a amamentação, além de não resolver a cólica. Remédios ” contra gases” tem pouca eficácia.  O mais importante é ter paciência de acalmar o bebê, aconchegando-o no colo, barriga com barriga, ou apoiado de bruços na extensão do antebraço dos pais.
As cólicas são transitórias; administra-las talvez seja mais importante que tentar resolve-las.

24. É possível aliviar as cólicas do primeiro trimestre com produtos naturais como, por exemplo, a funchicória?
Produtos naturais da flora medicinal, também chamados de fitoterápicos, exercem grande atração sobre o público e merecem nossa atenção quanto à sua utilização terapêutica. A funchicória apresenta-se sob a forma de pó obtido a partir de uma planta chamada funcho ou erva-doce. Proporciona efeito relaxante e algo sedativo, acreditando-se benéfico como auxiliar no tratamento sintomático da cólica, pois sabemos que a tensão é um dos principais elementos envolvidos na gênese da cólica do lactente. Contudo, o uso excessivo pode ser prejudicial, havendo relatos esporádicos de sedação excessiva, com pausas respiratórias. Não deve, pois, ser utilizado sem supervisão médica, sob risco de prejudicar a saúde do bebê.

25. Certos produtos como canjica, cerveja preta etc. aumentam a produção de leite?
Não há, sob o ponto de vista científico, qualquer evidência que respalde esta informação, embora muitas nutrizes relatem ter observado tal benefício. Provavelmente, por tratar-se de ingestão de líquidos e substâncias de alto valor calórico, influenciam positivamente na síntese do leite, como qualquer outro produto similar. A canjica, rica em leite de vaca, pode fornecer uma proteína (betalactoglobulina) que é capaz de tornar alergizante o leite produzido por mulheres que ingerem muito leite de vaca ou seus derivados, havendo a possibilidade de alguns bebês apresentarem “alergia ao leite de vaca” que passa pelo leite de sua mãe.

26. A mulher doente pode amamentar?
Primeiro é importante lembrar que a mulher não é uma máquina produtora de leite, ela é um ser humano especial, que engravidou, pariu e até pode, com nossa ajuda, amamentar. Logo, é importante respeitar a doença da mãe. Nas doenças comuns, sem grande repercussão no organismo, pode amamentar e deve ser ajudada no que for necessário. Nos casos banais de resfriados, ela deve colocar um lenço na boca e nas narinas, simulando uma máscara, para não despejar grande quantidade de partículas virais na criança. É bom lembrar que, amamentando, ela passa anticorpos contra os vírus. Se a mãe tiver necessidade de ser hospitalizada, o bebê deve ser hospitalizado junto. Se a doença for incompatível com a amamentação, ela deve ordenhar o leite que deverá ser oferecido à criança com xícara, colher ou copinho e não em mamadeira, o que pode levar à confusão de mamilo.

27. O hábito de fumar pode atrapalhar a amamentação?
A nicotina faz com que mulheres fumantes tenham menor probabilidade de amamentar seus filhos. Acredita-se que isto seja devido a um efeito direto do tabagismo pela redução do volume do leite. Contudo a Academia Americana de Pediatria, através de seu comitê consultor, classifica  a nicotina como droga compatível  com a amamentação. Tal fato se baseia em estudos que mostraram que filhos de mulheres tabagistas que eram amamentados apresentavam menor risco de doenças respiratórias que aqueles filhos de tabagistas que  não eram amamentados. Além disto, um outro estudo, holandês, mostrou que os efeitos negativos da exposição intra-uterina ao tabaco na performance cognitiva das crianças, aos 9 anos de idade, eram limitados às crianças que não foram amamentadas. Assim, acredita-se que a amamentação associada ao  tabagismo materno é menos prejudicial à criança que o uso de leites industrializados. Contudo, devido a relatos de redução de ingesta do leite, por alteração do sabor e da também da produção de leite por nicotia, o crescimento da criança deve ser rigorosamente acompanhado. Além disso, vários estudos relatam menor tempo de aleitamento por mães tabagistas.  Bebês pequenos que são amamentados por mulheres tabagistas podem apresentar náuseas, vômitos, diarréia, agitação e aumento da freqüência cardíaca. A dose considerada tóxica para o bebê está contida em 10 cigarros/dia.
O assunto deve ser discutido com a mãe e seus familiares, sendo uma oportunidade para desestimular o tabagismo.

28.  Qual a relação entre a amamentação e o hábito de tomar cafezinhos?
A cafeína pode passar do sangue para o leite materno. Embora as concentrações sejam baixas, com o tempo há um acúmulo tóxico. A cafeína está presente não só no café, mas também em chás, chocolates e bebidas à base de cola, todas freqüentemente ingeridas pela mãe. A ingestão de seis a oito xícaras de qualquer dessas bebidas pode levar ao acúmulo de cafeína no organismo da criança, levando à insônia, agitação e cólicas. Para maiores detalhes, leia o Cap. 8.

29. Que outros alimentos ingeridos pela mãe podem causar malefícios à criança?
Certos tipos de alimentos podem passar para o leite e causar algum tipo de desconforto ou cólica na criança. Entre eles podemos citar a couve-flor, o brócolis, a cebola e o repolho. O excesso de chocolate, isto, é, 450 gramas ao dia, pode causar irritabilidade e cólicas no bebê. O aspartame pode ser usado sem problemas, exceto se a mãe apresentar uma doença rara, a fenilcetonúria.

30. Qual a relação entre álcool e amamentação?
O álcool alcança, no leite materno, níveis semelhantes aos níveis sangüíneos da mãe. Assim, mães que usam bebidas alcoólicas periódica ou freqüentemente expõem seus bebês a malefícios que incluem sonolência profunda, fraqueza, redução do crescimento em altura, ganho excessivo de peso e falência da glândula supra-renal. A ingestão materna de 0,3g/kg ao dia diminui, também, o reflexo de descida do leite. Portanto, a mãe que está amamentando deve ser desencorajada a fazer uso de bebidas alcoólicas.

31. Como proceder se a mãe tiver que usar algum medicamento durante o período em que está amamentando?
A grande maioria dos medicamentos de uso corriqueiro pode ser utilizada com segurança durante a amamentação. Quando não houver certeza, deve-se substituir a droga por uma de segurança conhecida, o que também é possível em muitas situações. Para diminuir o contato do bebê com o medicamento que pode passar pelo leite, é recomendável que a ingestão do mesmo se faça logo ao término de uma mamada, permitindo um intervalo de tempo para ação da substância no período de repouso da criança. O Cap. 8 apresenta uma extensa e completa relação de drogas catalogadas como “compatíveis”, “de uso criterioso” e “contra-indicadas”.

32. A mulher que está amamentando pode fazer exames radiográficos? 
Não há qualquer contra-indicação para a realização de exames radiológicos simples ou contrastados, desde que seja utilizada substância compatível com a lactação, o que é do conhecimento dos profissionais que trabalham na área. Portanto, são procedimentos que, sendo necessários, podem ser realizados com segurança. Veja mais detalhes no Cap. 8.

33. A mulher que amamenta pode usar tinturas no cabelo?
Entre os obstetras existe relativo consenso em alertar as gestantes quanto ao possível risco de aplicar tinturas que contenham a substância amônia em sua fórmula no couro cabeludo, sobretudo no primeiro trimestre da gestação, uma vez que, teoricamente, esta substância química contida no produto de tintura poderia alcançar a corrente sangüínea, atravessar a barreira placentária e afetar o embrião em formação, acarretando eventualmente alguma deformidade (malformação congênita). 
Durante a amamentação, contudo, não existe, em princípio, o temor de que substâncias tóxicas oriundas da tintura possam alcançar o leite materno em concentrações significativas para acarretar malefícios ao bebê. 
No entanto, recomenda-se, preferencialmente, o uso de tinturas não tóxicas (hena) .
Em relação a outras substâncias utilizadas em produtos para  o tingimento dos cabelos, aquelas que contém chumbo em sua formulação não são consideradas seguras para a utilização na gestação e, também, durante a amamentação. É recomendação do Ministério da Saúde que esta informação esteja em destaque na embalagem do produto.
Atualmente também é prática freqüente entre as mulheres o alisamento dos
cabelos obtido por técnicas variadas. Todas podem ser realizadas pelas nutrizes  desde que não contenham formol. O formol é substância tóxica quando utilizada em altas concentrações e para cumprir tal efeito os seus níveis ultrapassam o limite de segurança. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária ( ANVISA) só permite o uso do formol em cosmética como conservante ( concentração de 0.2%) ou como agente para o endurecimento de unhas ( concentração de 5%). Assim, seu uso como alisante não é autorizado.
No entanto, recomenda-se preferencialmente o uso de tinturas não tóxicas (hena), já que não dispomos de estudos detalhados sobre esse assunto.

34. É possível tratar a conjuntivite do recém-nascido com leite de peito?
Com freqüência os recém-nascidos apresentam secreção ocular que costuma aparecer em conseqüência de uma obstrução temporária do conduto lacrimal, desencadeada, algumas vezes, pelo uso de colírio à base de nitrato de prata. Nestes casos, é válido pingar leite de peito no olho afetado e massagear a seguir a região junto ao canto interno da fenda palpebral para promover a desobstrução do conduto, e o procedimento deverá se repetir três a quatro vezes ao dia.
O leite materno contém anticorpos e enzimas com ação antimicrobiana que ajudam a combater infecções oculares sem ajuda de medicamentos. Contudo, quando não ocorre melhora, o médico deverá ser consultado para orientar a conduta mais adequada, solicitando exames ou prescrevendo antibiótico.

35. Pacientes que tiveram câncer de mama e se submeteram a cirurgia para a retirada do órgão podem amamentar numa gestação futura?
Mulheres tratadas de câncer de mama que foram liberadas para engravidar estão aptas também para amamentar e se beneficiarem desta prática em relação à sua própria doença. É sabido que mulheres que amamentaram têm menos câncer de mama, principalmente na idade mais jovem. Em relação à quantidade de leite, uma mama é capaz de suprir as necessidades de um bebê, já que quanto mais for estimulada, maior será a produção de leite, o que pode ser comprovado quando observamos as mães de gêmeos que alimentam a ambos.

36. A prática do Aleitamento pode acarretar flacidez e queda do seio?
Não há, até o momento, qualquer comprovação científica de que a amamentação promova a flacidez ou a queda das mamas. Ao contrário, sabe-se que estas alterações sofrem influências de fatores constitucionais, raciais, familiares, hormonais, da idade, da atividade física etc. Também é sabido que o aumento das mamas ocorre ao longo da gestação, quando surgem em algumas mulheres as estrias, antes mesmo de iniciada a lactação. Portanto, a flacidez está mais relacionada ao aumento da glândula do que à amamentação. Isto explica também a queda das mamas em algumas mulheres que durante longo período estiveram com seu tamanho aumentado e que, ao retornar à situação anterior, têm seus tecidos de sustentação e pele excedentes, não possibilitando um retorno à anatomia anterior.

37. É possível prevenir o aparecimento de estrias nas mamas com a utilização de cremes?
O aparecimento de estrias está também relacionado ao aumento da glândula mamária, além do fator constitucional de cada mulher. A estria ocorre porque rompem-se as fibras elásticas, que são submetidas a um crescimento superior à sua capacidade, formando então aquelas linhas de coloração diferente. Não se conhece nenhum produto com eficácia comprovada na prevenção desta alteração, embora muitas mulheres garantam o contrário. É difícil saber se aquelas que julgam terem se beneficiado de algum produto iriam apresentar estrias sem o seu uso. Do ponto de vista científico, não há recomendação para que se utilizem cremes para prevenir o problema, porém deve-se respeitar o desejo manifesto da mulher de utiilizá-los.

38. O reaparecimento da menstruação indica a necessidade de interromper a amamentação?
Não, a volta da menstruação apenas indica que o mecanismo anticoncepcional inerente à amamentação já não funciona mais e que é necessário que o casal procure um serviço médico para aprender a utilizar um método de planejamento familiar mais eficaz ao caso.

39. Como agir com a mulher que engravida ainda amamentando o filho pequeno? Interromper a amamentação?
Não há necessidade: a grande maioria das mulheres que engravida ainda amamentando não tem nenhum tipo de problema. No entanto, é importante sabermos que os hormônios que são liberados na mamada da criança e que produzem o leite (ocitocina) também atuam contraindo o útero. Se houver uma história familiar ou pessoal de abortos ou de partos prematuros, isso deve ser levado em conta, e, se necessário, deve-se suspender a amamentação.

40. Durante a amamentação há risco de uma nova gestação?
Este risco existe principalmente se a amamentação não é exclusiva, ou seja, se a criança estiver recebendo outros alimentos. Para se ter uma boa proteção contra nova gestação, ao redor de 98%, é necessário que a mãe esteja amamentando plenamente, sem oferta de complementos, que esteja nos seis primeiros meses após o parto e esteja sem menstruar. Não se deve confundir menstruação com o sangramento que pode ocorrer até um mês após o parto. Portanto, se estes três requisitos: aleitamento exclusivo, nos seis primeiros meses e estando sem menstruar estiverem presentes, existe uma proteção bastante eficaz.
Para maiores informações, leia o Cap. 13.

41. Durante a amamentação a mulher pode usar pílula anticoncepcional?
Se a mãe deseja o aleitamento exclusivo e prolongado não deve usar as pílulas anticoncepcionais convencionais, já que estas possuem uma substância (estrogênio) que pode interferir na produção do leite. Para estas mulheres recomenda-se o uso de pílulas que contenham somente a progesterona (minipílulas), que não interferem com a amamentação e, neste período, tem eficácia similar à das outras. Ao solicitar um anticoncepcional, deve a mãe informar o seu médico sobre o seu desejo de amamentar. Veja maiores detalhes sobre anticoncepção na nutriz no Cap. 13.

42. Mulheres que se submeteram à cirurgia plástica para diminuição das mamas podem amamentar?
Vai depender da técnica cirúrgica que foi utilizada. Quando não se interferiu com a área central da mama, onde os ductos lactíferos periféricos (dê uma olhada no Cap. 3) convergem para o seio lactífero, que é um grande depósito de leite localizado atrás da aréola, esta prática transcorrerá sem problemas. Do contrário poderá ocorrer alguma dificuldade, que só será observada no início da amamentação. Nossos cirurgiões, conscientes do valor da amamentação, têm feito planos cirúrgicos que não a comprometam mais tarde. Não se justifica a desistência do aleitamento antes da observação do problema e de várias tentativas para solucioná-lo.

43. E quanto à colocação da prótese de silicone?
Também aqui, a técnica de colocação será importante para preservar a amamentação. Com esta finalidade, a abertura da mama para introdução da prótese deve ser feita na periferia do órgão, próximo à axila ou na parte inferior da mama. A abertura na área central pode lesar a região próxima da aréola e do mamilo. A localização correta da prótese é abaixo da musculatura peitoral ou abaixo da glândula mamária, o que mantém inalterada a anatomia da glândula relacionada com a amamentação. Segundo a literatura, o silicone utilizado para aumento do volume das mamas foi implantado em cerca de um milhão de mulheres norte-americanas até o ano 2001. Os estudos existentes não demonstram achados anormais nas crianças amamentadas. Assim, a AAP classifica o implante de silicone como compatível com a amamentação.

44. Como fazer com piercing e tatuagens?
A ocorrência de piercings mamilares e tatuagens aréolo-mamilares, é cada vez mais freqüente entre as mulheres, principalmente as adolescentes. Estas práticas podem interferir com o aleitamento materno. O piercing, ao ser colocado, pode perfurar dutos mamários no mamilo, com posterior fibrose e obstrução dutal. No futuro, isto pode prejudicar a saída do leite. Também o piercing e, principalmente, as ta tuagens aréolo-mamilares, podem ter, como complicações, infecção local com posterior fibrose, e conseqüente obstrução dos canais de leite mamilares. As tatuagens com tintas do tipo Henna com freqüência associam-se à dermatite local e não devem ser realizadas durante o período da amamentação.

45. Há perigo de o silicone implantado nas mamas ser absorvido e passar ao leite?
Não há evidências de que o silicone seja tóxico para o bebê ou para sua mãe. Parece pouco provável, pois o silicone é encontrado em concentrações mais elevadas no leite de vaca e alguns leites industrializados do que no leite humano de mulheres que fizeram implante.

46. Por falta de orientação, meus mamilos racharam quando amamentei meu filho. Usava banho de sol e secador de cabelo ou banho de luz, quando chovia. Consegui curá-los, mas com muita dificuldade e, principalmente, quando comecei a deixar os mamilos lambuzados de leite, por orientação de uma tia mais velha. O que eu fiz de errado?
Nada, tudo foi correto e você está de parabéns. Sabemos que manter os mamilos secos (sol, luz ou secador de cabelos) é muito bom para a prevenção das rachaduras (fissuras). No entanto, secá-los muito pode até favorecer a piora se eles já estiverem rachados. Nesses casos, a rachadura se recupera mais rápido mantendo-a úmida com o próprio leite (como você fez), o que prevenirá a perda de umidade das camadas mais profundas da pele.

47. Qual a melhor forma de tratar o ingurgitamento mamário?
O ingurgitamento é o acúmulo de leite nas mamas, que pode ocorrer ou por aumento na produção ou por dificuldade no esvaziamento. Deve-se observar se a postura, posição e pega do bebê estão corretas para garantir uma sucção eficaz. Se necessário, corrigi-las. Reforçar para a gestante a necessidade de amamentar sob livre demanda. Na fase aguda a mãe deve repousar, esvaziar as mamas através de massagens e ordenha manual e, se necessário, utilizar compressas frias nos intervalos das mamadas. Pode ser necessário o uso de analgésicos. Ao contrário do que às vezes acontece, em função da dor, a mamada não deve ser interrompida e sim incrementada ou substituída por uma eficaz ordenha: quem deve descansar é a mãe, não a mama.

48. Amamentei meu filho até o término da licença-maternidade e agora, quando estou no trabalho e penso nele, meu leite fica pingando, o que, além de ser incômodo, deixa minhas roupas “manchadas”. Existe algum remédio para isso?
O melhor remédio é o tempo. Esse gotejamento de leite ocorre em algumas mulheres em determinadas ocasiões: quando se lembram de seus filhos, quando ficam com as mamas cheias, quando mantêm relações sexuais e outras. Isso costuma desaparecer com o tempo. Enquanto isso, quando sentir que “está alfinetando e vai gotejar”, faça uma pressão com a região palmar de suas mãos (ou pince os mamilos com o dedo indicador e o polegar) durante alguns segundos. Quanto à roupa “manchada”, procure usar blusas estampadas, que “disfarcem” o derrame de leite. Evite o uso de protetores, ou use-os apenas excepcionalmente.

49. Estou amamentando meu segundo filho e, a exemplo do que aconteceu com o primeiro, fico com um caroço na axila, que aumentou de tamanho e ficou dolorido durante todo o período da amamentação, desaparecendo depois. O que pode vir a ser isso?

Procure um especialista, pois pode ser um “ducto bloqueado” (veja Cap. 7). No entanto, pela história de repetição no segundo filho, isso pode ser a exteriorização de uma mama extranumerária, que é a localização de uma mama fora da posição anatômica que é a face anterior do tórax. Na grande maioria das vezes a mama é rudimentar, sem orifícios de saída (veja o Cap. 3). No entanto, às vezes ela é completa, embora de tamanho menor, produz e deixa vazar leite. O tratamento nessa fase é inibir a lactação com frio local e o uso de analgésicos. Essa patologia é evitada pelo exame rotineiro do tórax das meninas ao entrarem na puberdade, quando, se diagnosticadas mamas supranumerárias, deve-se optar pela cirurgia.

50. O uso de pomadas e cremes está indicado quando ocorre dor ou rachadura nos mamilos?
A principal causa de dor e rachaduras ou fissuras nos mamilos é a posição incorreta da boca do bebê ao sugar, conhecida como pega. A exposição das mamas ao ar e/ou ao sol também previnem tais inconvenientes. Portanto, a melhor forma de prevenção destes problemas é o aprendizado correto por parte da mãe no pré-natal. Uma vez ocorrido o problema, algumas medidas devem ser tomadas e serão bastante eficazes. A primeira delas é observar se a pega está correta e corrigi-la, se for o caso. Deve-se utilizar o próprio leite, no final da mamada, para hidratar e lubrificar a pele dos mamilos, assim como deixá-los expostos ao ar e se possível também ao sol. Todas estas medidas, se iniciadas precocemente, tornarão desnecessário o emprego de medicamentos tópicos.

51. E quanto ao uso de casca de banana ou de mamão com a finalidade de cicatrizar feridas nos mamilos?
Como dito anteriormente, deve-se priorizar a prevenção do aparecimento das lesões, quer pelos cuidados com as mamas, quer pela observação do bebê. Para tratamento das feridas, o leite materno, o ar e o sol representam melhor opção. Hoje em dia, não se recomenda o uso da casca de banana ou mamão para tratamento dos mamilos (veja o Cap. 7).

52. A mulher HIV-positiva pode amamentar?
Não, pois o vírus HIV pode ser transmitido pelo leite à criança. No Brasil, uma portaria do Ministério da Saúde proíbe a amamentação em tais mulheres. Atualmente existe um protocolo de administração de drogas antivirais durante a gestação, trabalho de parto e ao recém-nascido, logo após o nascimento, que reduzem muito a possibilidade de transmissão do vírus HIV durante a gestação e parto. Ainda assim, a conduta atual é contra-indicar o aleitamento materno nesses casos. Leia o Cap. 6 para se inteirar de mais detalhes.

53. Como as mulheres que necessitam voltar precocemente ao trabalho ou escola podem continuar oferecendo seu leite ao filho?
Estas mulheres deverão ser orientadas para amamentar seus filhos sempre que estiverem em casa, além de ordenhar suas mamas para a coleta de leite, que será estocado e utilizado quando a mesma estiver fora do lar. Deverão ser acondicionados em pequenas quantidades e em vários frascos de vidro, com boca larga, previamente fervidos (mantê-los com a água em ebulição durante 20 minutos). Deve-se anotar as datas de coleta nos frascos e consumi-los pela ordem. Os frascos podem ficar à temperatura ambiente (por pouco tempo, mais ou menos duas horas), em geladeira (tempo intermediário: 24 horas) ou freezer (tempo maior: sete dias). Deve-se ter o cuidado de oferecer o leite ao bebê em copinhos ou na colher, evitando mamadeiras ou chucas, que podem criar a chamada “confusão de bicos”.

54. Em quais situações a Amamentação deve ser interrompida definitivamente?
Em casos que possam representar risco de transmissão de doenças da mãe para o bebê, por exemplo, a mãe portadora do vírus HIV. Também nos casos em que as mães precisam se submeter a tratamentos cujos medicamentos impossibilitem a amamentação, como ocorre nos casos de câncer em que se necessite de quimioterapia. Felizmente, estes casos são raros. Muitas outras situações permitem uma interrupção temporária, com retorno da amamentação tão logo cesse o motivo que determinou tal interrupção. Para maiores detalhes, leia os Caps. 6 e 8).

55. Até que idade deve-se manter o Aleitamento Materno?
Recomenda-se que o Aleitamento Materno Exclusivo seja praticado até o sexto mês. A partir daí, são introduzidos novos alimentos, sem a suspensão da mamada ao peito, que deve se estender até os dois anos de vida da criança. Este prazo final não pode ser visto com rigidez, já que muitas crianças o ultrapassam sem prejuízo de sua saúde ou de sua mãe. Deve-se lembrar que a criança maior que ainda vai ao peito não o faz por necessidades nutricionais, e sim afetivas. De acordo com diversas teorias baseadas em informações de primatas não humanos, principalmente gorilas e chimpanzés (que têm 98% de sua carga genética idêntica à do homem), o período natural de amamentação para a espécie humana ficaria entre dois e sete anos. Estudos mostram que as crianças eram tradicionalmente amamentadas por três a quatro anos, deixando de fazê-lo por conta própria nesse período, quando lhes era permitido mamar de acordo com sua própria vontade. Por conta disto é que, independentemente da época em que esta interrupção ocorra, ela deve ser a mais progressiva e atraumática possível.

56. Pode ocorrer anemia no bebê alimentado com leite materno?
Bebês amamentados exclusivamente ao seio materno não desenvolvem anemia ferropriva, pois, apesar de não ser rico em ferro, o leite materno apresenta magnífica biodisponibilidade deste elemento, que é o principal componente da hemoglobina — pigmento vermelho que dá cor ao sangue e é responsável pelo transporte do oxigênio para os tecidos.
Tanto o leite de vaca quanto o leite humano concentram relativamente pouco ferro, porém 49% do ferro contido no leite materno são absorvidos pelo organismo, enquanto apenas 10% são aproveitados quando se utiliza leite de vaca e fórmulas. 
Sendo assim, não se justifica complementar o aleitamento materno com medicamentos à base de ferro sob pena de facilitar infecções por bactérias que se utilizam desse ferro excedente para se multiplicarem no organismo do bebê.

57. O leite materno também previne o raquitismo?
Sim, o leite materno contém relativamente pouca vitamina D, mas, em virtude da boa proporção de cálcio e fósforo e da excelente absorção do cálcio, essenciais para o bom crescimento dos ossos, não há necessidade de suplementação com polivitamínicos ricos em vitamina D, pelo menos enquanto o bebê se alimenta exclusivamente de leite materno.
Bastam 30 minutos de exposição ao sol por semana para que a pele do bebê se transforme na principal fonte de vitamina D para o organismo. Recomenda-se banho de sol no início de cada manhã, expondo braços e pernas para garantir ao bebê ossos fortes e saudáveis, fundamentais para o crescimento adequado.

58. Como amamentar gêmeos? 
Mães de gêmeos têm leite suficiente para os dois. Contudo, elas precisam de ajuda e apoio para cuidar da dupla. São necessários estímulo e suporte familiar para que ela se torne segura em sua capacidade de alimentar duas crianças de uma vez, sendo fundamental que receba orientações adequadas para obter êxito na tarefa. 
Nos primeiros dias é recomendável amamentar ambos ao mesmo tempo, visando estimular a lactação e a “descida do leite”. Sugerimos quatro alternativas para acomodar os bebês simultaneamente: 
•           Bebês cruzados, com as pernas voltadas para a linha média do ventre materno.
•           Posição invertida, com as pernas voltadas para trás do corpo da mãe e cabeças apoiadas sobre travesseiros (como se a mãe estivesse carregando bolas de futebol americano). 
•           Bebês olhando para a mesma direção, com as pernas voltadas para o mesmo lado (direito ou esquerdo).
•           Mãe deitada, com os bebês paralelos a seu corpo.
Na segunda semana, a mãe poderá amamentar o bebê que acorda primeiro, deixando para acordar e amamentar o segundo quando o primeiro tiver terminado. Neste caso ela oferece um peito para cada um, alternando na mamada seguinte.
Caso um dos gêmeos seja mais fraco, ele deverá ser estimulado a sugar com mais freqüência, podendo receber complemento com leite materno ordenhado ofertado por copinho, xícara ou colherzinha. Para maiores detalhes, leia o Cap. 5.

59. Ouvi dizer que a preferência do bebê por um lado do peito, não gostando de ficar mamando no outro lado, pode ser decorrente do jeito como ele estava dentro do útero. Isto é verdade?
Não existem verdades absolutas numa relação interpessoal íntima, e a amamentação é o protótipo dela. Realmente, a compressão fetal do final da gestação, que pode até levar a pés e pernas tortas, pode favorecer determinadas atitudes que fazem o agora recém-nascido “preferir” um lado do peito em detrimento do outro. Isto é transitório e existem algumas manobras para sua resolução, descritas no Cap. 10.

60. Quais as diferenças entre o leite materno, o leite de vaca e o leite em pó industrializado?
Resumidamente, sabe-se que o leite materno é específico para o seu bebê, adequado para a idade do mesmo, respeitando as necessidades do ser humano, enquanto o leite de vaca é produzido para alimentar a sua cria, o bezerro. Mesmo o leite de vaca em pó, modificado quimicamente, não consegue se assemelhar ao materno. Há uma citação antiga, de Friedberg, que diz que “na arte de bem alimentar um lactente, mais vale um bom par de mamas do que os hemisférios cerebrais do mais douto professor”. Por isso, a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças da Primeira Infância (veja Cap. 27-a) determina seja vedado o uso do nome “leite maternizado” para o leite em pó, pois em nada se assemelha ao leite materno.

61. Existe alguma técnica especial para a mulher que foi cesareada amamentar?
A primeira delas é anterior à amamentação, dando-se preferência à anestesia peridural, com participação maior da mulher. Além disso, deixar essa mulher o menor tempo possível com dificuldade de mobilizar-se no leito, fazendo a pega de veia nas pernas e não nos braços, como costuma ser rotineiro. Não se deve esquecer de que a cesareada precisa de apoio do profissional de saúde, de seu companheiro e de seus familiares. Com isso garante-se a mamada precoce, ainda na sala de recuperação obstétrica. Outras práticas importantes são: uso de travesseiro em cima da sutura cirúrgica para diminuir a pressão do corpo do bebê aí colocado para mamar; colocação de travesseiros nas costas para aumentar o conforto físico; colocação de travesseiros também atrás dos joelhos, para dificultar o retesamento das pernas e a dor na ferida operatória. Outras práticas: amamentar de lado, com a criança entre seu braço e seu tórax, ou amamentar em posição invertida (posição de jogador de futebol americano). Enfim, querendo, podemos e devemos atenuar o ato cirúrgico como um empecilho à amamentação precoce, freqüente e diuturna. A participação do companheiro ou do familiar escolhido pela mulher, mais do que nunca, é desejada e extremamente benéfica para o início da amamentação da mulher cesareada.

62. Qual a melhor época para iniciar novos alimentos para o bebê?
Não há um momento exato e predeterminado para a introdução de outros alimentos. As crianças são diferentes; as mães também são diferentes umas das outras. A média de idade em que a criança precisa receber outros alimentos é de aproximadamente seis meses, sempre lembrando que ela deve continuar mamando no peito até mais ou menos dois anos.

63. Meu filho tem 11 meses e só quer meu peito, não aceita outro tipo de alimento. O que pode ter acontecido?
A recusa do bebê aos novos alimentos, que devem ser oferecidos a partir do sexto mês, é comum e a aceitação só se dá após algumas tentativas. Se a criança não começar a receber outros alimentos na época certa, talvez depois seja mais difícil ensinar-lhe a ingerir alimentos sólidos e de paladar diferente. A época correta é o sexto mês porque, entre outras coisas, entre os cinco e os nove meses a maioria dos bebês tem muita fome: querem comer mais e experimentam, com prazer, novos alimentos. Em torno do 10o mês, no entanto, ficam enjoados e não colaboram tanto. É provável que isso tenha acontecido com seu filho. Não se lastime, pois faltaram a você orientações por parte dos profissionais que lhe assistiam. No Cap. 14 você encontrará sugestões de como proceder e tudo se resolverá. Parabéns por ter amamentado seu filho.

64. Pode-se usar o forno de microondas para descongelar o leite materno?
Não. O processo de descongelação através do microondas altera as características bioquímicas do leite, favorece o crescimento bacteriano e aumenta o risco de queimaduras na boca do bebê, pois o aquecimento é feito de maneira não homogênea, deixando áreas mais frias que podem ser as utilizadas no teste de ver “se a temperatura está boa”. Nos bancos de leite há tabelas que correlacionam, entre outros dados, o volume do leite e a têmpera do vidro onde está armazenado, e aí, sim, ele poderá ser descongelado através do microondas, processo realizado por especialistas.

65. Quais são as chances de sucesso da lactação adotiva?
A lactação adotiva, que é a amamentação realizada por uma mãe não biológica, é uma prática de saúde; logo, não é uma prática de ciências exatas e fica difícil estabelecer números. Além disso, não devemos criar muitas expectativas numa mulher que queira amamentar uma criança adotada (o que já é mais do que suficiente para, mais que respeitá-la, distingui-la com nossa total atenção), o que poderá gerar ansiedade, que, como vimos no Cap. 3, é um mecanismo de inibição da amamentação. O sucesso vai depender de uma série de fatores, de diversas esferas, entre eles da experiência prévia da mãe em amamentar, do seu estado psíquico, do apoio de seu companheiro e de seus familiares, da nossa experiência com o assunto e da capacidade de sugar e interagir do bebê adotado.
Talvez possa aqui dizer que, em mães com história prévia de amamentação, em torno do sétimo dia começa a haver produção de leite enquanto o bebê mama no suplementador ou no leite derramado no peito da mãe adotante. Se essa experiência não existe, a média de aparecimento da lactação é um pouco maior, em torno de 14 dias. É bom lembrar da necessidade de suprir as necessidades nutricionais dessa mãe que, não tendo engravidado, não tem as reservas calóricas necessárias à produção de leite. O uso de medicamentos indutores da lactação, como a metoclopramida e o sulpiride (veja o Cap. 8), deve ser discutido com a equipe de saúde que atende a essa senhora, pois podem ser desnecessários, e até potencialmente perigosos. Vale aqui lembrar que, como dizem os psicanalistas, “o melhor medicamento é a palavra do médico”.

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