domingo, 12 de outubro de 2014

Às mães que agora começam - Por Luíza Dinner

você sonhou com esse bebê. planejou, aguardou e quase não se continha de ansiedade quando, ainda na barriga, ele te fazia pensar em seu rostinho, seu cheirinho, suas mãos e pés tão pequenos. você pensou no enxoval, no quarto e mínimos detalhes para a sua chegada.
talvez, porém, essa criança não tenha sido planejada, mas foi igualmente amada e querida por você.

algumas pessoas quiseram te ajudar, afinal, antes de termos nosso primeiro filho, esse mundo é totalmente desconhecido para nós e ajuda é sempre bem vinda, especialmente daqueles que nos amam. não faltam livros, pediatras e conselhos para te auxiliar especialmente nesse primeiro momento que, dizem, é tão difícil.
chega o grande dia: nasce o bebê! você se alegra, se emociona, tira foto e mostra para todo mundo. no hospital te ajudam a dar banho, trocar fralda. você está imersa em felicidade.
aí vocês vão para casa. tudo parece um sonho. aquele quartinho finalmente terá um neném para ocupá-lo e o berço – que talvez antes estivesse cheio de roupas, pacotes de fraldas e outras tralhas – agora está prontinho para receber seu pequeno rei ou rainha.
mas algumas coisas começam a acontecer diferente do esperado. aquela doce criatura que antes só dormia começou a acordar, a resmungar, a chorar. e como chora! você se questiona se está tudo bem com ele, tenta de diversas maneiras acalmá-lo. será fome, frio, calor, fralda suja? será que ele sente dor?
dá o peito“, diz uma mãe mais experiente.  “bota um agasalho“, fala sua avó
“dá chá” “dá água” “dá chupeta” “dá remédio”. nada adianta. “deixa chorar. isso daí é manha”, alguém conclui.

cada um diz uma coisa, mas ninguém está ali na hora do vamos ver para te ajudar.
então chega a noite e, quando você finalmente pensa que vai descansar, a bagaceira começa. 
acorda, troca a fralda, mama, faz cocô, quer mamar de novo, dorme, acorda novamente e o ciclo parece não ter fim.
um, dois, dez dias se passam e a privação de sono começa a te afetar. você bota pomada antiassaduras na escova de dentes achando que é creme dental, confunde desodorante com bom ar, corre pra acudir o bebê que está chorando e de repente se toca que era somente o cachorro do vizinho latindo.
sua relação com seu companheiro já não é mais a mesma desde a gravidez, mas agora parece estar ainda mais afetada: o sono, o resguardo, a irritação e no fundo no fundo parece até que ele está com ciúmes desse bebê.
um furacão passou e tirou tudo do lugar e agora sua vida está completamente revirada. nem você se reconhece mais. vontade de chorar, de dormir três dias seguidos, de sumir do mapa. sentimento de culpa te invade por estar se sentindo tão estranha na época que era pra ser a mais linda da sua vida.
é uma montanha russa de emoções porque, se por um lado você se sente a mulher mais feliz do mundo por ter seu bebezinho tão perfeito ali, por outro parece que você não consegue curtir nada direito.

será que um dia as coisas vão voltar ao normal?
será que um dia eu vou dormir outra vez?
e como vai ser quando eu voltar a trabalhar?

no meio de tudo seu peito racha, o leite parece não dar conta, o bebê não para de chorar, não cresce direito, não ganha peso. o pediatra aconselha entrar com o complemento, mas você não concorda. “é pelo bem dele”, o médico completa.
sua mãe te faz lembrar do maravilhoso jeito que ela criou você e seus irmãos e te enche de conselhos.
sua amiga, mais experiente, te recomenda um livro que promete fazer o bebê dormir a noite inteira e recuperar sua vida antiga.
você lê numa reportagem, num grupo de mães, num blog dicas incríveis que fazem seu bebê virar um anjinho em pouco tempo.
então tenta ouvir as “vozes da sabedoria” e colocar em prática alguns desses conselhos.
é duro, é cansativo, seu bebê parece estar extremamente desconfortável com aquilo tudo: “você tem que insistir! no começo é difícil, mas vai ser recompensador” – essas palavras ecoam na sua mente quase como um mantra enquanto você seu bebê chora sozinho no berço.

seu corpo diz uma coisa, seus amigos e parentes dizem outra, seu bebê clama por outra, completamente diferente.
seu coração também diz outra coisa.

para!
respira profundamente. respira de novo. e de novo. e de novo. respira quantas vezes você achar que precisa, mas respira.
traz à memória seus sonhos durante a gravidez, pensa naquela expectativa. agora lembra do dia que seu bebê nasceu e da emoção que foi vê-lo pela primeira vez. pensa nos momentos bons que vocês têm tido desde então: dos barulhinhos que ele faz enquanto dorme, das suas caretinhas engraçadas, da sua delicadeza, do calor que aquele corpinho emite, dele descansando profundamente nos seus braços.
e respira.
tira seu pensamento da noite passada, tente não imaginar como será a próxima noite, muito menos o amanhã e o depois.

viva o agora.

apaga da sua memória tudo o que você leu ou ouviu. escute apenas o choro do seu bebê, não como uma coisa irritante, mas como uma música doce e suave. escute o que aquele bebê quer te dizer. ouça também seu coração. eles estão em sintonia: você e o bebê são um só. deixe-se envolver, embalar, ninar. pegue-o no colo, cante para ele, converse com ele. não precisa sentir vergonha, não há nada de ridículo nisso. entregue seu corpo, sua razão, sua alma a esse momento. e viva, flua, ame. amor é entrega, é doação, é renúncia.
não se sinta incapaz. tudo que você precisa para cuidar desse bebê está em você: seu cheiro, seu calor, seu leite. é disso que ele precisa. é disso que você precisa.
não deixe sua mente te enganar com as obrigações do dia a dia, não se preocupe em acostumar seu bebê bem ou mal, deixe somente que ele se acostume a você. você foi o primeiro contato dele, em você ele foi gerado e ele anseia por você com todas as suas forças.
relaxe.

assim como a gravidez passou e levou consigo todos os incômodos, essa fase também vai passar. ela é apenas o começo de uma vida completamente nova e incrível. não tente compará-la a nada do que você já viveu, muito menos ao que outros viveram.
mantenha a humildade para escutar os outros, mas nunca – jamais – se esqueça de ouvir primeiramente o que você e seu bebê querem dizer.

e sejam felizes.

http://potencialgestante.com.br/as-maes-que-agora-comecam/

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