quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Prática da episiotomia

   A episiotomia é um corte cirúrgica na região da vulva, realizada no momento da expulsão do bebê. Os benefícios, descritos na literatura, incluem a prevenção do trauma perineal grave, entre outras. Trata-se de um dos procedimentos mais comuns em obstetrícia, sendo superado apenas pelo corte e pinçamento do cordão umbilical. É praticado em 60% dos partos normais, com frequência de até 90% em primíparas ( mulheres que passam pelo seu primeiro parto).

   Nos últimos anos, a literatura tem demonstrado que o uso da episiotomia de rotina não deve ser incentivado, abrindo a discussão sobre os benefícios e riscos deste procedimento. Dentre os riscos e prejuízos estão a perda sanguínea, retocele (deslocamento do reto), cistocele (deslocamento da bexiga), incontinência urinária, dispareunia (dor durante a relação sexual) e aumento dos índices de infecção. Além de que a episiotomia não previne lacerações graves, de terceiro e quarto graus. A maior parte das lacerações graves foi encontrada nos casos em que a episiotomia foi praticada.

   Estudos apontam que esta prática é menos comum quando há a preocupação com a humanização ao atendimento à gestante em trabalho de parto. Pois, o princípio da humanização no campo obstétrico hospitalar está centrado em uma assistência menos intervencionista. São utilizados métodos não invasivos que contribuem de maneira eficiente para a progressão do parto e respeitam os direitos sexuais e reprodutivos da mulher. A assistência humanizada ao parto é muito discutida pelos enfermeiros obstetras. Há uma preocupação em instituir tecnologias que auxiliem na fisiologia do parto e preservem a integridade corporal, evitando intervenções desnecessárias como a episiotomia. Estudos realizados em instituições em que o enfermeiro obstetra assiste ao parto normal demonstram que a taxa de episiotomia nestes locais é bem inferior daquelas em que apenas os profissionais médicos atuam nesta assistência. Em uma maternidade pública do Rio de Janeiro foi detectada uma taxa de 11,2% referente ao uso da episiotomia em relação ao total de partos acompanhados em ano por enfermeiros obstetras.

   Altos índices de episiotomia contrariam as diretrizes preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que considera a episiotomia como prática frequentemente utilizada de modo inadequado e que deve ter seu uso limitado.  Alguns autores sugerem que a episiotomia seja realizada entre 10% a 30% dos partos normais, embora o Ministério da Saúde não tenha determinado uma taxa de referência para esta prática. 

   A realização de procedimentos e intervenções sem uma prévia indicação obstétrica é comum em parturientes, como é o caso da episiotomia de rotina e que precisa ser reavaliada. As alterações maternas e neonatais não foram estatisticamente significantes quando relacionadas ao uso da episiotomia, sugerindo que os critérios utilizados na prática obstétrica em relação à episiotomia não seguem um padrão determinado.

   Apesar das evidências científicas que questionam o seu uso, observa-se que esta prática ainda é comum nas maternidades estudadas. Estas são maternidades públicas e deveriam seguir as recomendações do Ministério da Saúde para realização de partos humanizados. Nota-se ainda a necessidade da maior inserção dos enfermeiros obstetras na assistência direta ao parto normal sem distócia (dificuldade na evolução do trabalho de parto ). O seguimento de um modelo menos intervencionista, pautado nos conceitos de humanização, que respeite os direitos femininos e o parto normal fisiológico, podem contribuir de forma positiva na diminuição dos índices de episiotomia e no incremento da atenção ao binômio mãe-filho.

Leia o estudo na íntegra: http://www.revenf.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-19442012000400005




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