terça-feira, 21 de outubro de 2014

O último tabu - Por Carlos González

" Estes tabus modernos poderiam ser classificados em três grandes grupos:

- Relacionados com o choro: é proibido dar atenção a crianças que choram, pegar-lhes ao colo, dar-lhes aquilo que querem.
- Relacionados com o sono: é proibido adormecer as crianças ao colo ou a mamar, cantar ou embalá-las para que adormeçam e dormir com elas.
- Relacionados com a amamentação materna: é proibido amamentar a qualquer momento, em qualquer lugar; ou fazê-lo a uma criança demasiado crescida.

   Quase todos eles têm uma coisa em comum: proíbem o contacto físico entre mãe e filho. Por outro lado, gozam de grande estima todas as atividades que tendem a diminuir o referido contato físico e aumentar a distância entre mãe e filho:

- Deixá-lo sozinho no seu quarto.
- Transportá-lo num carrinho ou num desses incômodos moisés de plástico.
- Colocá-lo num jardim de infância o mais cedo possível ou deixá-lo com uma avó ou, de preferência, com uma ama (as avós tornam os netos mal-educados!).
- Inscrevê-lo em colônias e acampamentos cedo e durante o maior período de tempo possível.
- Ter espaços de intimidade para os pais, sair sem as crianças, fazer vida de casal
   
   Ainda que algumas pessoas tentem justificar estas recomendações dizendo que permitem que a mãe descanse , a verdade é que nunca proíbem nada de cansativo. Ninguém lhe diz "Não limpe tanto, que ganha o mau hábito de ter a casa limpa", ou "Quando for para o exército, terá de ir atrás para lhe lavar a roupa". Na verdade, o proibido parece ser a parte mais agradável da maternidade: adormecê-lo ao colo, cantar-lhe, desfrutar da sua companhia. Talvez seja por isso que criar os filhos se afigure tão difícil para algumas mães. Há menos trabalho que antigamente (água corrente, máquina de lavar, fraldas descartáveis), mas também há menos compensações. Numa situação normal, quando a mãe desfruta da liberdade de cuidar do filho como acha conveniente, o bebê chora pouco e, quando chora, a mãe sente pena e compaixão: (coitado, o que ele terá?) Mas quando proibiram a mãe de lhe pegar ao colo e dormir com ele, amamentá-lo ou consolá-lo, a criança chora mais e a mãe vive esse choro com impotência e, em longo prazo, com raiva e hostilidade (E agora, que Diabo lhe mordeu?)

   Todos estes tabus e preconceitos fazem as crianças chorar e também não fazem os pais felizes. A quem satisfazem então? Talvez a alguns pediatras, psicólogos, educadores e vizinhos que os defendem? Eles não têm o direito de lhe dar ordens, de lhe dizer como deve viver a sua vida e tratar o seu filho. Demasiadas famílias sacrificaram a sua própria felicidade e a dos seus filhos no altar de preconceitos sem fundamento." 

Trecho do livro Besame Mucho do Pediatra Carlos Gonzalez

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