quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Por que não dar suco para bebês? - Por Luíza Dinner do Blog Potencial Gestante

semana retrasada postei um texto sobre a saga da introdução alimentar da constança e mencionei o fato de não dar sucos para ela.
como algumas pessoas me perguntaram por que eu não dou suco para ela, achei que valia um post à parte.
começou anos atrás, quando li alguns textos a respeito no blog crianças na cozinha, da pat feldman.
fui atrás e vi que o marido dela, dr. alexandre feldman, tem um livro chamado Enxaqueca e fala, dentre outras coisas, do perigo do açúcar na nossa saúde.

a partir disso resolvi fazer uma coletânea de textos de estudos e artigos a respeito, para trazer mais luz e informação a quem se interessar pelo assunto:

“Uma pesquisa publicada pelo “British Medical Journal” pode amargar o café da manhã de muita gente: o consumo diário de um ou mais copos de suco de fruta eleva em até 21% o risco de desenvolver diabetes tipo 2.

A doença, que é considerada uma epidemia mundial, afeta 347 milhões de pessoas, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
(…)
Segundo os cálculos do estudo, trocando os sucos por um consumo frequente de quaisquer frutas inteiras, o risco de diabetes cai 7%; a queda pode ser maior dependendo da escolha de cada um.

(retirado do artigo “frutas protegem contra diabetes, mas sucos elevam risco da doença“, site da Folha de São Paulo)

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o Ministério da Saúde também recomenda:

“As refeições, quanto mais espessas e consistentes, apresentam maior densidade energética (caloria/grama de alimento), comparadas com as dietas diluídas, do tipo sucos e sopas ralas.
Como a criança tem capacidade gástrica pequena e consome poucas colheradas no início da introdução dos alimentos complementares, é necessário garantir o aporte calórico com papas de alta densidade energética.” (pg 23)

“É importante que a mãe seja orientada sobre não oferecer, como refeição, alimentos líquidos de baixa densidade energética do tipo sopas, caldos e sucos.” (pg 24. no texto ele faz a distinção entre sopa e papa. a papa consiste no alimento amassado e a sopa é aquele tanto de água com verduras, legumes, etc)

“As frutas devem ser oferecidas in natura, amassadas, ao invés de sucos. O consumo de suco natural deve ser limitado e, se for  oferecido, em pequena quantidade, após as refeições principais para ajudar a absorver melhor o ferro inorgânico. Porém, os sucos não devem ser utilizados como uma refeição ou lanche, por conterem menor densidadeenergética que a fruta em pedaços.” (pg. 26)

{vale lembrar que estamos falando de bebês maiores de 6 meses, visto que até o sexto mês o leite materno deve ser o único alimento do bebê, salvo exceções}:

“o leite materno contém tudo o que o bebê necessita até o 6º mês de vida, inclusive água. Assim, a oferta de chás, sucos e água é desnecessária e pode prejudicar a sucção do bebê, fazendo com que ele mame menos leite materno, pois o volume desses líquidos irá substituí-lo. Água, chá e suco representam um meio de contaminação que pode aumentar o risco de doenças.” (pg. 12)

(do Ministério da Saúde, Dez passos para uma  alimentação saudável – Guia alimentar para crianças menores de dois anos)

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Sucos, mesmo sem adição de açúcar, concentram açúcar da própria fruta. Muito açúcar. Tanto é assim que, segundo o famoso Harvard Nurses Study, o consumo de sucos de frutas por crianças aumenta o risco de diabetes do tipo 2. Cada vez mais estudos sérios e honestos têm mostrado que a ingestão habitual de sucos de frutas contribui muito para a atual epidemia de obesidade.

(…) todo esse açúcar influencia negativamente os níveis de serotonina no cérebro, e esse neurotransmissor, quando em desequilíbrio, pode causar doenças como enxaqueca, depressão, ansiedade, fibromialgia. Todo esse açúcar também desequilibra os níveis de insulina e estrogênio, levando a desequilíbrios hormonais em mulheres e homens, desequilíbrios estes que facilitam ainda mais o surgimento da enxaqueca.

Sucos industrializados são piores ainda. Muito piores! (…) Todos esses ingredientes podem, de uma forma ou de outra, provocar desequilíbrios no nosso organismo a ponto de gerar sintomas de doenças crônicas como a enxaqueca, entre muitas outras.

Mas comer uma fruta não é a mesma coisa que tomar um suco?

Não. Pense só: para você comer um cacho de uvas (se aguentar esse tanto), leva cerca de 15 minutos. Já para beber um suco de dois cachos de uva (não chega a dar um copo), pode levar menos de 1 minuto. É muito açúcar entrando no organismo em pouco tempo e sendo absorvido imediatamente.

Além disso, a presença de fibras nas frutas (por exemplo, as cascas dessas uvas) retarda bastante a absorção do açúcar. E obviamente, as fibras das frutas são coadas no preparo dos sucos.

Conclusão: A noção de que “suco de frutas faz bem à saúde” é puro mito.

Isso vale também (e muito mais!) para bebês e crianças.”

(extraído do post “sucos e enxaqueca – por que evitar“, escrito pelo dr. alexandre feldman).

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” De acordo com o estudo publicado, “frutas têm componentes altamente variáveis de fibra, antioxidantes, outros nutrientes e fitoquímicos que, juntos, influenciam o risco”.

No entanto, quando observado o impacto de sucos de frutas, os pesquisadores chegaram a um leve aumento do risco de diabetes tipo 2, contra a redução provocada pela ingestão de frutas sólidas.
(…)
“Ao fazermos um suco, separamos a (polpa) fruta de seus fluidos, que são absorvidos mais rapidamente, aumentando os níveis de açúcar e insulina no sangue para conter os açúcares”, explica Qi Sun, autor do estudo e professor na Harvard School of Public Health.
“Para diminuir o risco de diabetes tipo 2, o ideal seria diminuir o consumo de sucos e aumentar o de frutas”, aconselha.”

(retirado do artigo “suco de frutas pode aumentar risco de diabetes”, no site da BBC Brasil)

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Duas das principais justificativas, senão as maiores, para que se sugira oferecer apenas frutas e não sucos em crianças até um ano de idade, além do aleitamento materno exclusivo até 6 meses, são o índice glicêmico (IG) e a carga glicêmica (CG).

Quando ingerimos qualquer alimento, há uma elevação do nível de nosso açúcar no sangue (glicose – glicemia). Esse aumento pode acontecer de forma rápida ou de forma lenta, em picos maiores ou menores e essa ação pode durar por mais ou menos tempo.
O IG e a CG são os padrões de medida, de forma científica, dessas características alimentares. O ideal, o desejado, o saudável é ingerir alimentos de médio para baixo IG e CG.
Tudo o que aumenta a nossa taxa de glicose no sangue rapidamente, a altos níveis e tem uma digestão rápida, tem um IG alto e isso pode provocar uma liberação maior da insulina que, por sua vez, é um dos fatores que podem favorecer o diabetes tipo 2.
O ideal é ingerirmos alimentos de baixo IG, ou seja, que elevem a glicemia (dosagem de açúcar no sangue) menos do que a glicose, sejam decompostos mais lentamente, liberando a glicose aos poucos na corrente sanguínea e por um tempo mais prolongado.
Já a carga glicêmica (CG) dá o resultado do efeito que a dieta tem na glicemia como um todo porque avalia a porção de carboidrato disponível dos alimentos e o IG (através de uma fórmula: CG = porção do carboidrato disponível x IG/100).

Assim, os sucos têm maior IG e maior CG do que as frutas in natura, em pedaços.  Seu uso constante e precoce aumenta o risco de induzir maior resistência periférica à insulina que é a base do quadro de diabetes tipo 2, cada vez mais comum nas crianças, sendo esse um dos fatores que contribuem de forma significativa para o aumento dos níveis de sobrepeso e obesidade infantis observados nas últimas décadas.

(…)

Academia Americana de Pediatria, em matéria atualizada em 28 de maio de 2013 no site HealthyChildren.org, faz algumas “recomendações responsáveis” para a incorporação do suco na dieta das crianças, entre as quais quero ressaltar:

- Evitar a oferta até pelo menos um ano de idade e evitar o uso de mamadeiras;
- Que seja suco de fruta natural, sem nenhuma adição de açúcar ou adoçante;
- Considerar diluir em água;
- Encorajar a criança a comer frutas frescas, inteiras, sempre que possível;
- Sempre que possível, servir suco que contenha a polpa para aumentar a quantidade de fibras;
- Certificar-se que a introdução do suco não interfira no interesse da criança no leite e na água;
- Ficar atento a possíveis sinais de excesso de ingestão de sucos como diarreia infantil bem como problemas de deterioração de dentes, que são comuns não só em bebês, mas principalmente entre os 2 e 3 anos de idade, quando ocorre um maior consumo.

Em outra matéria do mesmo site, (30/07/2012 atualizada em 11/05/2013), há uma orientação a respeito da quantidade de suco a ser oferecida:

- 1 a 6 anos – limite de 120 a 180 ml ao dia. Em crianças acima de 6 meses o suco não oferece nenhum benefício nutricional maior do que as frutas inteiras que, além disso, são fontes de fibras e outros nutrientes. Não permitir que as crianças carreguem copos ou caixinhas contendo sucos, durante o dia.
- 7 a 8 anos – limite de 240 a 360 ml ao dia.

(retirado do site pediatria e homeopatia, do dr. Yechiel Moises Chencinski)

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“Nem todo mundo que fuma tem câncer de pulmão, nem todo mundo que bebe bebida alcoólica tem cirrose, nem todo mundo que tem relação sem preservativos tem AIDS. Mas há uma chance maior de isso tudo acontecer. Nem por isso, deixamos de orientar a forma que se julga adequada (não fumar, não beber e relações sexuais sempre com proteção).

Assim, nem todas as crianças que usarem andador terão acidentes e serão internadas, nem todas as crianças que estiverem em um carro fora das cadeirinhas vão morrer em acidentes, nem todas as crianças que consumirem mel abaixo de um ano de idade terão botulismo, e nem todas as crianças que tomarem sucos terão obesidade ou diabetes tipo 2. Mas há uma chance maior de isso tudo acontecer. Nem por isso, deixamos de orientar a forma que se julga adequada (não usar andador, no carro, sempre na cadeirinha, não oferecer mel abaixo de um ano de idade e não oferecer sucos abaixo de um ano de idade e dar preferência para as frutas in natura).”

(retirado também do site pediatria e homeopatia, do dr. Yechiel Moises Chencinski)

* * *

lembrando que tudo isso são recomendações baseadas em anos de estudo e pesquisa, mas não imposições.
porém, com o acesso a informações de qualidade, fica mais fácil tirar suas próprias conclusões.

como o título sugere, podemos tentar evitar o consumo de sucos, mas longe de mim proibi-los! ninguém aqui em casa é proibido de beber suco! mas também há o momento certo para isso e não vemos nele um substituto a uma refeição, por exemplo.

até 1 ano de idade, benjamin não tomou suco e o mesmo acontecerá com a constança. entre 1 e 2 anos, ele tomava suco só  natural (sem gelo e sem açúcar), diluído em água. hoje em dia ele até toma um ou outro suco. não digo que liberei o “suco” de caixinha (aquele tipo néctar, que é uma porcaria), mas não compramos aqui em casa. ele toma se estiver na casa de alguém, em um aniversário onde só tivermos opção entre suco de caixinha ou refrigerante (que ele nunca tomou por razões óbvias, segundo tudo apresentado neste post) ou qualquer outra situação onde ele precisa “beber socialmente” (ahahahha! desculpe a comparação ridícula!) e, sempre que dá, nesse esquema metade-suco-metade-água.
hoje em dia até se encontra suco industrializado aqui em casa de vez em quando, mas daqueles 100% fruta, sem adição de açúcares, aromatizantes nem conservantes (e ainda assim diluído). também volta e meia rola um suco de polpa ou da própria fruta, sem adoçar (exceto suco de limão, né, gente!? mas aí eu ponho açúcar mascavo, demerara ou mel. e bem pouquinho) e ainda assim não fazemos do suco um hábito nas nossas refeições.

mas o que o benjamin e a constança bebem no dia a dia?
água, gente! muita água!
benjoca também adora chá – quente ou gelado – sem nenhum tipo de doce, mas acho que sansa nunca tomou.

e as vitaminas, como ficam?
diretamente da fruta. fruta é mais fácil de preparar, não suja liquidificador (no máximo uma tábua e uma faca),não perde as vitaminas rapidamente como o suco natural, além de ser rica em fibras (que são perdidas em boa parte quando se processa um suco).
você só tem a ganhar oferecendo frutas ao seu filho (e a você mesmo).

pode parecer meio exagerado, até xiita, mas na verdade é uma questão de hábito. para que nossos filhos se alimentem de forma saudável precisamos, primeiramente, mudar a nossa forma de pensar e também reconsiderar nossa relação com a comida, que muitas vezes excede as razões alimentares e vira até uma coisa meio afetiva.
comer é bom, beber é delicioso e é nessa hora que precisamos encontrar o equilíbrio. alguns podem dizer que seguir uma alimentação natural e saudável é sem graça, mas eu digo que, com o tempo, acostuma-se. você se surpreenderia ao ver o tanto que nosso gostos mudam e passamos a encontrar prazer em coisas que, além de tudo, fazem bem para o nosso corpo!
concessões podem ser abertas, claro! eu curto muito uma coca cola (me julguem), mas tenho bebido pouquíssimo. às vezes vou ver e passou um mês inteiro sem que eu botasse a maldita na boca. com isso observamos que, conforme os hábitos mudam, a regra vira exceção e tudo fica mais fácil. mais fácil ainda pros nossos pequenos, que estão começando agora. o que se ensina  fica para a vida inteira. então por que não ensinar algo com o qual eles só têm a ganhar, não é mesmo?

mas, caso você seja do tipo que não vive sem, bate o pé e não arreda, fica a sugestão de consumir o suco de frutas (naturais e de preferência sem açúcar) aliado a alguma fonte de fibra, como uma folha de couve no suco de laranja, ou linhaça, chia, dentre outros grãos (;

http://potencialgestante.com.br/tag/por-que-nao-dar-suco-para-bebes/




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