Algumas indicações de cesariana
REAIS
1) Prolapso de cordão – com dilatação não completa;
2) Descolamento prematuro da placenta com feto vivo – fora do período expulsivo;
3) Placenta prévia parcial ou total (total ou centro-parcial);
4) Apresentação córmica (situação transversa) - durante o trabalho de parto (antes pode ser tentada a versão);
5) Ruptura de vasa praevia;
6) Herpes genital com lesão ativa no momento em que se inicia o trabalho de parto (em algumas diretrizes, somente se for a primoinfecção herpética).
PODEM ACONTECER, PORÉM FREQUENTEMENTE SÃO DIAGNOSTICADAS DE FORMA EQUIVOCADA
1) Desproporção cefalopélvica (o diagnóstico só é possível intraparto, através de partograma e não pode ser antecipado durante a gravidez);
2) Sofrimento fetal agudo (o termo mais correto atualmente é "freqüência cardíaca fetal não-tranqüilizadora", exatamente para evitar diagnósticos equivocados baseados tão-somente em padrões anômalos de freqüência cardíaca fetal);
3) Parada de progressão que não resolve com as medidas habituais (correção da hipoatividade uterina, amniotomia), ultrapassando a linha de ação do partograma.
Nota: o uso do partograma de Friedman é altamente questionável. A curva de evolução do trabalho de parto tem grande variação, recomendando-se atualmente a curva de Zhang, com percentis. Pela grande variação do que é fisiológico, considera-se que não é necessário intervir para apressar um parto quando mãe e bebê estão bem.
SITUAÇÕES ESPECIAIS EM QUE A CONDUTA DEVE SER INDIVIDUALIZADA, CONSIDERANDO-SE AS PECULIARIDADES DE CADA CASO E AS EXPECTATIVAS DA GESTANTE, APÓS INFORMAÇÃO
1) Apresentação pélvica (recomenda-se a versão cefálica externa com 37 semanas mas se não for bem sucedida, discutir riscos e benefícios com as gestantes: o parto pélvico só deve ser tentado com equipe experiente e se for essa a decisão da gestante);
2) Duas ou mais cesáreas anteriores (o risco potencial de uma ruptura uterina – variando de 0,5% - 1% - deve ser pesado contra os riscos de se repetir a cesariana, que variam desde lesão vesical até hemorragia, infecção e maior chance de histerectomia);
3) hiv/aids (cesariana eletiva indicada se HIV + com contagem de CD4 baixa ou desconhecida e/ou carga viral acima de 1.000 cópias ou desconhecida); em franco trabalho de parto e na presença de ruptura de membranas, individualizar casos.
Algumas desculpas utilizadas pelos profissionais para realizar uma DESNEcesárea (em ordem alfabética)
1. Abdominoplastia prévia |
2. Aceleração dos batimentos fetais |
3. Adolescência |
4. Ameaça de chuva/temporal na cidade |
5. Anemia falciforme |
6. Ameaça de parto prematuro (?) |
7. Anemia ferropriva |
8. Anemia de qualquer tipo (entendam, gestantes, a cesariana vai agravar a anemia, uma vez que a perda sanguínea é cerca de 500ml no parto normal e 1.000ml na cesariana |
9. Anencefalia |
10. Anticoagulação (uso de warfarin que já deveria estar suspenso a termo, uso de heparina de baixo peso molecular, uso de heparina convencional) |
11. Artéria umbilical única |
12. Asma |
13. Assalto ou outras formas de violência (gestante ou familiar foi vítima de assalto, então o bebê pode ficar estressado) |
14. Acidente Vascular Cerebral (AVC) prévio |
15. Bacia "muito estreita" |
16. Baixa estatura materna |
17. Baixo ganho ponderal materno/mãe de baixo peso |
18. Bebê alto, não encaixado antes do início do trabalho de parto |
19. Bebê profundamente encaixado |
20. Bebê que não encaixa antes do trabalho de parto |
21. Bebê "grande demais" (macrossomia fetal só é diagnosticada se o peso é maior ou igual que 4kg e não indica cesariana, salvo nos casos de diabetes materno com estimativa de peso fetal maior que 4,5kg. Não se justifica ultrassonografia a termo em gestantes de baixo risco para avaliação do peso fetal). |
22. Bebê "pequeno demais" |
23. Bebê engolindo o líquido amniótico |
24. Bebê flagrado apertando o cordão durante a ultrassonografia, o que aparentemente levou a bradicardia |
25. Bilhete ou telefonema do prefeito/secretário de saúde de município próximo – Bilhete de qualquer político |
26. Bolsa rota (o limite de horas é variável, para vários obstetras basta NÃO estar em trabalho de parto quando a bolsa rompe) |
27. Calcificação da sínfise púbica (alegando-se que ocorreria em TODAS as mulheres com mais de 35 anos, impedindo o parto normal) |
28. Candidíase |
29. Cardiopatia (o melhor parto para a maioria das cardiopatas é o vaginal) |
30. Cegueira materna |
31. Ceratocone |
32. Cesárea anterior |
33. Chlamydia, ureaplasma e mycoplasma |
34. Circular de cordão, uma, duas ou três “voltas” (campeoníssima – essa conta com a cumplicidade dos ultrassonografistas e o diagnóstico do número de voltas é absolutamente nebuloso) |
35. Cirurgia gastrointestinal prévia |
36. Colestase gravídica |
37. Coleta de sangue do cordão umbilical para congelamento e preservação de células-tronco |
38. Colo grosso, colo posterior, colo duro, colo alto e (paradoxalmente) colo curto |
39. Colostomia (sim, porque é melhor fazer uma incisão abdominal perto do estoma com fezes do que um parto normal bem distante da área...) |
40. Conização prévia do colo uterino |
41. Condilomas (verrugas genitais) que não provocam obstrução do canal de parto. |
42. Constipação (prisão de ventre) |
43. Cordão curto (impossível a mensuração antes do nascimento) |
44. Cálculo renal (nefrolitíase) |
45. Data provável do parto (DPP) próximo a feriados prolongados e datas festivas (incluindo aniversário do obstetra) |
46. Datas significativas como 11/11/11 ou 12/12/12 (ainda bem que a partir de 2013 precisaremos esperar o próximo século mas ainda inventam outras...) |
47. Diabetes mellitus clínico ou gestacional |
48. Diagnóstico de desproporção cefalopélvica sem sequer a gestante ter entrado em trabalho de parto e antes da dilatação de 8 a 10 cm |
49. Disfunção da sínfise púbica |
50. Dorso à direita, dorso posterior, ou dorso em qualquer outro lugar |
51. Edema de membros inferiores/edema generalizado |
52. Eletrocauterização prévia do colo uterino |
53. Endometriose em qualquer grau e localização |
54. Enxaqueca materna |
55. Epilepsia e uso de qualquer droga antiepiléptica |
56. Escoliose |
57. Espondilite anquilosante – Qualquer espondiloartropatia |
58. Estreptococo do Grupo B (EGB) no rastreamento com cultura anovaginal entre 35-37 semanas |
59. Exérese prévia de pólipos intestinais por colonoscopia |
60. Falta de dilatação antes do trabalho de parto |
61. Falta de vagas nos hospitais se a gestante não marcar a cesárea |
62. Feto com “unhas compridas” |
63. Feto morto |
64. Fibromialgia |
65. Fratura de cóccix em algum momento da vida |
66. Gastroplastia prévia (parece que, em relação ao peso materno, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come) |
67. Gestação gemelar com os dois conceptos, ou o primeiro, em apresentação cefálica |
68. Gestante saudável demais, correndo o risco de ter um parto fácil e muito rápido, podendo parir antes de chegar ao hospital, com risco de morte do bebê |
69. Gravidez não desejada |
70. Gravidez prolongada |
71. Grumos no líquido amniótico |
72. Hemorroidas |
73. Hepatite B e Hepatite C |
74. Hérnia de disco, operada ou não, em qualquer segmento da coluna vertebral |
75. Hérnia inguinal, hérnia incisional e hérnia umbilical |
76. Hiperprolactinemia |
77. Hipertireoidismo |
78. Hipotireoidismo |
79. História de cesárea na família |
80. História de câncer de mama ou câncer de mama na gravidez |
81. História de depressão pós-parto |
82. História de natimorto ou óbito neonatal em gravidez anterior |
83. História de trombose venosa profunda |
84. História familiar de fibrose cística do pâncreas |
85. HPV com ou sem NIC |
86. Idade materna “avançada” (limites bastante variáveis, pelo que tenho observado, mas em geral refere-se às mulheres com mais de 35 anos) |
87. Incisura nas artérias uterinas (pesquisada inutilmente, uma vez que não se deve realizar oplervelocimetria em uma gravidez normal) |
88. Incontinência urinária de esforço ou estar fazendo muito xixi no final da gravidez |
89. Infecção urinária |
90. Inseminação artificial, FIV, qualquer procedimento de fertilização assistida (pela ideia de que bebês “superdesejados” teriam melhor prognóstico com a cesárea) – motivo pelo qual esses bebês aqui no Brasil muito raramente nascem de parto normal |
91. Insuficiência istmocervical (paradoxalmente, mulheres que têm partos muito fáceis são submetidas a cesarianas eletivas com 37 semanas SEM retirada dos pontos da circlagem) |
92. Insuficiência Renal Aguda ou Crônica |
93. Laparotomia prévia |
94. Lesão medular (habitualmente acarretando paralisia: tetraplegia, paraplegia, hemiplegia, diplegia, dependendo do nível da lesão): essas mulheres em geral são cadeirantes e podem ter partos sem dor, mas o diagnóstico não é indicação de cesárea! |
95. Líquido amniótico em excesso |
96. Lúpus eritematoso sistêmico (LES) |
97. Magreza da mãe |
98. Malformação cardíaca fetal |
99. Mecônio no líquido amniótico (só indica cesariana se houver associação com padrões anômalos de frequência cardíaca fetal, sugerindo sofrimento fetal) |
100. Mioma uterino (exceto se funcionar como tumor prévio) |
101. Miscigenação racial (pelo “elevado risco” de desproporção céfalo-pélvica) |
102. Neoplasia intraepitelial cervical (NIC) |
103. Nó verdadeiro de cordão (impossível o diagnóstico antenatal, sorry) |
104. 98. Obesidade materna |
105. 99. Paciente “não tem perfil para parto normal” |
106. Paciente “não ajuda para o parto normal” (momento vidente ON: “no fundo ela quer cesárea”) |
107. Parto “prolongado” ou período expulsivo “prolongado” (também os limites são muito imprecisos, dependendo da pressa do obstetra). O diagnóstico deve se apoiar no partograma. O próprio ACOG só reconhece período expulsivo prolongado mais de duas horas em primíparas e uma hora em multíparas sem analgesia ou mais de três horas em primíparas e duas horas em multíparas com analgesia. Na curva de Zhang o percentil 95 é de 3,6 horas para primíparas e 2,8 horas para multíparas) |
108. “Passou do tempo” (diagnóstico bastante impreciso que envolve aparentemente qualquer idade gestacional a partir de 39 semanas) |
109. Perineoplastia anterior |
110. Pé nas costelas |
111. Pé torto congênito |
112. Placenta grau III ou II ou I ou qualquer outra classificação placentária |
113. Placentas baixas não oclusivas do colo do útero |
114. Plaquetopenia |
115. Pólipos uterinos |
116. Possível falta de vaga em maternidade para um parto normal, caso a gestante não marque a cesárea |
117. Pouco líquido no exame ultrassonográfico (sem indicação no final da gravidez em gestantes normais) |
118. Praticar musculação ou ser atleta |
119. Pressão alta |
120. Pressão baixa |
121. Problemas oftalmológicos, incluindo miopia, grande miopia, ceratocone e descolamento da retina |
122. Profissão professora |
123. Prolapso de valva mitral |
124. Prótese total de quadril |
125. Prurido gestacional |
126. Qualquer malformação fetal incompatível com a vida |
127. Qualquer procedimento cirúrgico durante a gravidez |
128. Queloide ou tendência a queloide podendo complicar uma episiotomia (e a cesárea não? E para que fazer episiotomia?) |
129. Reação vasovagal |
130. Sedentarismo |
131. Septo uterino/cirurgia prévia para ressecção de septo por via histeroscópica |
132. Ser bailarina |
133. Sono fetal (bebê que dorme durante o trabalho de parto) |
134. Suspeita ecográfica de mecônio no líquido amniótico |
135. Síndrome de Down e qualquer outra cromossomopatia |
136. Síndrome de Ovários Policísticos (SOP) |
137. Tabagismo |
138. Trabalho de parto prematuro |
139. Trânsito urbano muito intenso |
140. Tricomoníase |
141. Trombofilias |
142. Trombose venosa profunda |
143. Varizes uterinas |
144. Uso de antidepressivos ou antipsicóticos |
145. Uso de aspirina e outros antiagregantes plaquetários (ex.: clopidogrel) |
146. Útero bicorno |
147. Útero retrovertido |
148. Vaginose bacteriana |
149. Varizes na vulva e/ou vagina |
150. Violência urbana, impedindo obstetra (famoso) de sair de casa à noite ou alegada como pretexto para que as gestantes também não sigam o perigoso percurso até a maternidade |
Nota: infelizmente isto não é piada. Agradeço a contribuição das gestantes, dos colegas e dos políticos que me mandam bilhetinhos estapafúrdios indicando cesarianas por motivos os mais exóticos, e recentemente a Gisele Leal que compilou mais indicações informadas pelas mulheres dos grupos do Facebook.
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