sábado, 18 de outubro de 2014

O Ebola e a origem do medo - Por Laura Gutman


O medo é uma emoção importantíssima para nossa sobrevivência, porque nos permite detectar o perigo e tomar a decisão de enfrentar ou de fugir. Mas há algo que não está previsto no projeto original do ser humano: que nossa mãe não tenha sido capaz de satisfazer nossas necessidades, não tenha podido nos proteger dos predadores e, em alguns casos, inclusive que tenha se tornado nossa pior predadora. Nesses casos, o medo inunda tudo porque, quando somos crianças, nossa mãe é todo o universo. Assim crescemos: temerosos e desconfiados, já que pode nos acontecer qualquer coisa se estivermos distraídos. Se alguém nos ameaça, nos grita, nos acusa ou nos castiga, o terror nos paralisa.

Isso que nos ocorre no âmbito individual logo se reflete no âmbito coletivo. Quando as organizações de poder nos ameaçam, ou nos fazem acreditar que existe uma ameaça latente (como o bicho papão, ou o homem do saco quando éramos criança), nossa reação é automática. E como crianças, ficamos cegos por causa do medo. Faremos o que for necessário (ou o que mamãe diga).

Talvez lembrem que há poucos anos instalou-se nos meios de comunicação uma psicose coletiva por conta do aparecimento da temível Gripe A. O bombardeio da mídia foi impressionante. Todos tínhamos medo. Até que foram vendidos alguns milhões de doses de Tamiflu (um antiviral) para a terrível gripe H1N1 que, com um nome tão futurista, dava mais medo ainda. O que ocorreu então? Nada, uma vez que os laboratórios fizeram seu negócio, não houve nada mais.

Me faz lembrar do filme “Wag the dog” (1997), cujo título em espanhol foi "La cortina de humo", com Dustin Hoffmann e Robert De Niro [no Brasil, "Mera Coincidência"]. Tratava-se de um grupo de políticos que precisava cobrir um escândalo sexual de um presidente dos EUA que pretendia ser reeleito (parodiando o affaire Clinton/Lewinsky). Para conseguir isso, contratam a um produtor de cinema que, no melhor estilo "Hollywood", recriava cenas de uma guerra na Albânia (país remoto para a maioria dos norte-americanos) para difundi-las na televisão e desviar a atenção para uma guerra tão atroz quanto inexistente.
Embora seja um filme, reflete exatamente o que nos ocorre na realidade.

E aqui estamos hoje, mais uma vez, submetidos a uma campanha de pânico. É o marketing do medo, que encaixa em locais primários muito reais para cada um de nós. Josep Pàmies, um espanhol especialista em plantas medicinais, é um, entre outros, que nos alerta sobre esta nova montagem, igual que no filme. Sua organização ofereceu à Guiné possíveis soluções ao Ebola que não foram recebidas. A planta Garcinia kola, já usada popularmente pelos curandeiros da região, oferece grandes resultados para esta doença, mas a OMS prefere proibi-la e sintetizá-la para poder patentear, assim, a fórmula miraculosa. A Artemisia Annua também é uma planta extraordinária que potencia o sistema imunológico e elimina a Malária e a Dengue, doenças que realmente matam centenas de milhares de indivíduos na África.

Vamos nos contagiar com o Ebola? A princípio, vamos comprar e consumir as drogas sintetizadas que aparecerão muito em breve no mercado. Talvez durante todo o ano de 2015 estejamos em estado de pânico com este assunto, que, além disso, vem importado de um local tão inconcebível como Serra Leoa (a maioria de nós não saberia localizá-la no mapa, exceto buscando no Google). É um país suficientemente longínquo e misterioso para fabricar uma doença terrível. O que podemos fazer? Dar-nos conta de que já não somos crianças, e que quando mamãe nos ameaçava com que o homem do saco ia nos levar, pouco e nada podíamos fazer. Mas agora sim, podemos, abrir a porta e sair ao mundo, podemos nos informar, podemos cotejar as informações (algumas totalmente sem sentido). Enfim, podemos usar o bom senso e logo - por fora do medo - tomar as decisões que queiramos.

Laura Gutman


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